Nélio | Poesias e Mensagens Virtuais

Mensagens de Nélio

Se um dia eu sumir...

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Categoria: Especial
Se um dia eu sumir...
BessanT

 

Se, por acaso, eu sumir,
decerto não terá sido por acaso.
Será porque eu tinha mesmo que ir,
será pelo começo do fim de um caso.
Ninguém some por querer,
por assim dizer.
Somos, todos, forçados,
apertados, acuados
instados a decidir.
Por isso, não me queira mal
se, um dia, eu sumir !
Eu te peço, mas sei
que nem preciso pedir...
És tão mais forte que muitos
que, fico pensando,
só eu sofrerei,
se, um dia, eu sumir.
Vai doer ?
Ah, vai !
Muito ?
Por certo !
Bastará, apenas, saber
que não mais a terei
ao meu lado, por perto.
Vai doer, sangrar, decerto...
Mas existe um meio
que há de evitar
que, num louco porvir,
eu louco de tudo,
resolva, de fato, sumir.
E nem é complicado,
não é caso pensado,
nada difícil assim.
Se não queres que eu vá,
que eu seja levado,
então, perdoa,
e volta para mim !

Porque gosto de cantar

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Categoria: Especial
Porque gosto de cantar

Nélio BessanT


Um dia, alguém me disse:
- Porque teu canto é tão triste?
E eu me pus a me indagar
se era válida, a questão
e cheguei à conclusão,
que quem não tinha razão
era esse alguém.
Afinal, não existe música triste,
não há no mundo, um triste cantar.
Existem, sim, pessoas tristes,
o que é bem diferente,
vale lembrar.
Eu canto porque gosto de cantar
e canto baixinho
quando quero me embalar.
E canto alto
quando quero me alegrar.
Canto, apenas, porque gosto de cantar.
Quem gosta do meu canto,
canta comigo.
Quem desgosta, apenas ouve...
No cantar, se faz amigos,
afloram os sentimentos.
E eu...
Bem eu sou um inveterado sentimental.
A música completa
os nossos melhores momentos,
massageia nossa alma,
aguça o pensamento
e a imaginação.
Faz presente a saudade,
aniquila a tristeza,
nos aproxima de Deus...
Quando canto, me emociono,
sinto junto a mim,
a presença de quem mais amo.
Na música só fiz amigos
e, os amigos, eu os amo todos,
pois, eles existem para isso mesmo:
serem amados.
E, se a música, para mim,
é como um rezar,
com sua licença, meu amigo,
eu vou cantar...

Se duvidavas...

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Categoria: Especial
Se duvidavas...

Nélio BessanT


 Chorando, me perguntaste,
querendo mesmo saber:
- Porque sofres, porque choras,
se dizes aos quatro cantos,
que sou eu, teu bem-querer ?
E eu te respondo, mulher,
que tu estás situada
exatamente dentro do meu conceito
de 'um grande amor'
que se carrega no peito.
Nele, nesse conceito,
não há grande amor
sem grandes dores,
isento de sofrimentos.
Mas, tu não és causa, és fim.
Tu não és a dor, és o lenitivo, sim.
Não és o erro, és o perdão.
Não és a mágoa, antes, o carinho.
Não és o egoísmo e sim a doação.
És isso e muito mais:
és a mulher a quem eu mais amo,
aquela a quem pertence
meu sofrido, pequenino,
mas sincero coração.

Homem / poeta

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Categoria: Especial
Homem / poeta
Nélio BessanT



Há quem, neste mundo insista,
sem prever o resultado,
por um poeta, um artista,
se dizer apaixonado.
Ledo engano, dura prova,
há de enfrentar quem assim
proceder, pois, se comprova,
quão mal há de ser seu fim.
É preciso que se faça
a completa distinção
entre o homem – este passa –
e o poeta – este não !
O homem, podes prender,
enjaular, e até amá-lo...
Faças, se queres fazer
nem precisarás soltá-lo.
É assim como um gatinho,
ronronando pelo chão,
dê-lhe um pouco de carinho,
cama e comida então...
Eis aí uma receita
para mantê-lo cativo.
Talvez não seja perfeita,
mas basta prá tê-lo vivo.
No outro caso, entretanto,
o do poeta, citado,
existe lá, certo encanto
estranho e não desvendado.
Poeta, essa criatura,
misteriosa, fingida,
decerto não se mistura
com o homem por toda a vida.

Este quase etéreo ser
não tem dono, nem patrão,
não se sujeita a viver
rastejando rente ao chão.
Pertence ao mundo por tudo
que a esse mesmo mundo dá,
sendo do mundo, contudo,
deixa esse mundo prá lá.
Vive em função da poesia,
não tem amores prá si.
Dia e noite, noite e dia
rimas daqui e dali.
Então, voltando ao começo,
atente à afirmação:
se todo homem tem preço,
um poeta, não tem, não !
O homem deves amar
com todo ardor e paixão;
só os dois podem completar
do Criador, a missão.
Pois, deixe o poeta à parte,
a ele, interessa, apenas,
que gostem de sua arte
enquanto encanta as camenas.
Faze dele um seu amigo,
convivam seus universos,
e ele será contigo
fiel amante ... em seus versos.

Anônimos

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Categoria: Especial
Anônimos

Nélio BessanT



O seu nome pouco importa, afinal.
Ele é mais um daqueles anônimos
daqueles esquecidos, tripudiados
sem os quais, não haveria Carnaval.
E o que ele faz por essa festa,
faz de maneira espontânea, honesta.
Faz com gosto, com amor
e principalmente com suor
muito suor.
Negro, alto, forte espadaúdo,
por emprego faz bico no cais
Mora longe, num subúrbio afastado
apartado daquilo que hoje ele faz.
Quando o desfile das grandes Escolas começa
ele, presto, a seu trabalho,
sua força empresta
pelo brilho, pela luz daquela festa.
São, nada mais nada menos,
que oitenta minutos de luta
da mais dura e penosa labuta.
Sua Escola não pode atrasar
não pode perder tempo na pista
Afinal, a glória só se conquista
se a equipe souber jogar.
E ele passa e vence a avenida
leve, solto, fazendo força, esforço,
mas no fundo, no fundo, feliz da vida.
Nenhuma câmera o enquadra,
nenhuma foto dele é feita...
Que importa ? Ele, sorri, se ajeita
e vai até o final - força -
como lhe disseram prá fazer
lá na quadra...
Fim de festa, fim de pista, de desfile
esgotado, enfim se senta
não dá prá descansar,
mas ele bem que tenta.
O resultado só sai amanhã
de manhã.
Pouco importa - ele cumpriu a missão
Se vão vencer, só Deus sabe, meu irmão.
Para ele, mais um ano valeu
E, se alguém pergunta qual a sua ala,
ele, feliz sorrindo, responde
categórico:
- Eu empurro um carro alegórico !


Minha paz 1

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Categoria: Especial

Minha paz                                  

Nélio BessanT
Entraste

na minha vida

pela porta

da frente.
Entraste

sem pedir licença

ao menos.
Entraste,

apenas,

entraste.
Eu, quieto

em meu cantinho

nem ao menos reagi

não o fiz

nem o quis...
Causaste tal revolução,

tanta mudança

causaste,

que eu comecei

a cismar:
Amar

é tão complicado assim ?
É assim tão difícil ?
É assim tão...?
É assim ?
É ?
?
Então,

não te quero

mais

por aqui.
Vai-te,

podes ir

e, por favor,

bate a porta

ao sair.
Não leva

nem deixa

nada

prá trás...

Ou melhor,

apenas

deixa-me

em

paz !

Fazedor de poemas

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Categoria: Especial
Fazedor de poemas
Nélio BessanT

- Como se faz um poema?
- Com versos rimados,
muito bem intercalados,
perfeitos, metrificados
e até musicalizados...
Por certo,
alguém me dirá.
E eu repito a pergunta:
- Como se faz um poema,
se eu não sei fazer a rima,
muito menos, contar sílabas
sejam tônicas ou não ?
- Então, sinto muito,
mas não é possivel, a você,
fazer poemas.
Certamente responderão.
Em resposta a tal questão,
em minha defesa, então,
me permita, meu irmão,
expor a minha razão.
Muito embora eu pouco saiba
de regras e seus afins,
em tudo aquilo que escrevo,
ponho um pouquinho de mim.
Meu coração vai bem antes,
procurar pelas estantes
da mente, em seus confins,
as inspirações constantes,
dos sonhos dos querubins.
E é nisso que eu me amparo
quando pretendo tentar
transferir para o papel
um sentimento tão raro,
- fazer poemas -
um dom que nos vem
do céu !

Poemateco

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Categoria: Reflexão
Poemateco 
Nélio BessanT

Sentado naquele canto,
vejam só, cabelos brancos,
mão rugosas, olhar distante...
Há quem pense, com certa razão,
que se trate, de um passante
ou mesmo de um pobre diabo
esquecido pela vida,
abandonado pelos seus,
mas não !
Eu o conheço, e muito bem.
Eu e o garçom do boteco.
Afinal, de há muito
que ele aqui vem.
Seu pedido é quase sempre
um repeteco.
Chama o garçom,
pede fósforo,
puxa papo,
uma cerveja,
caneta e guardapo.
A partir de então,
que ninguém o aborreça
que nada o incomode.
Dedica-se, corpo, alma
e sentimento,
a escrever, por fim.
E, ali, sozinho,
naquele sublime
instante,
fundem-se numa só,
duas entidades etéreas:
o poeta e o botequim...

Minha paz

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Categoria: Especial

 

Minha paz
Nélio BessanT
Entraste

na minha vida

pela porta

da frente.
Entraste

sem pedir licença

ao menos.


Entraste,

apenas,

entraste.
Eu, quieto

em meu cantinho

nem ao menos reagi
não o fiz

nem o quis...
Causaste tal revolução,

tanta mudança

causaste,
que eu comecei

a cismar:
Amar

é tão complicado assim ?
É assim tão difícil ?
É assim tão...?
É assim ?
É ?
?
Então,

não te quero

mais

por aqui.
Vai-te, podes ir

e, por favor,
bate a porta

ao sair.
Não leva

nem deixa

nada

prá trás...
Ou melhor, apenas

deixa-me

em 

paz.

Voluntária

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Categoria: Especial
Voluntária
Nélio BessanT


Eu queria ter recebido
de Deus, o dom
da doação.
Queria ter sido
escolhido
pelo Criador,
assim como poucos,
para repartir
com tantos
que, sem pedir,
imploram um naco
de nosso amor.
Mas, pessoas assim
são predestinadas,
não são feitas,
formadas,
ensinadas,
e tal dom
não coube a mim.
Mas enalteço
desses, a atuação,
por darem de si,
em prol de um irmão.
E, de forma muito especial,
por tudo quanto,
por amor,
entrega,
louvo,
pelos pequeninos
que em seus braços
carrega,
distribuindo conforto,
lá longe,
num país distante,
minha amiga.

Motocidade

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Categoria: Especial
Motocidade
Nélio BessanT

Há quem ande de moto,
quem ande na moto,
quem ame a moto.
Qual a sua categoria,
onde você se enfia ?
Eu, de minha parte,
amo todas elas
mas não um amor
platônico.
Eu as amo com intensidade
e só exijo delas,
cumplicidade
e potência.
É esta a exigência.
A moto, tal qual a fêmea
não deve ser recatada,
antes, ousada.
Não pode ser lenta
há que ser,
que estar atenta
ao meu desejo,
ao meu comando
pois, por ela eu vivo
e com ela
eu ando.
Potência
prá minha satisfação...
Isso seria pedir demais ?
Não, pois, por elas
sou capaz
de tudo.
Enfrento sol,
encaro chuva,
trânsito, lama,
o guarda, o sinal
a poluição na cara,
a dita má fama.
Delas quero ouvir
o grito incontido
o ronco, o gemido.
Machismo ?
Quem sabe...
Mas, esse sou eu:
moto, mulher, vida
enquanto durar
enquanto valer,
antes que acabe !

Total impossibilidade

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Categoria: Reflexão
Total impossibilidade
Nélio Bessant


Dia após dia,
me vejo impelido,
obrigado quase,
a não mais pensar em ti...
Como se isso fosse
assim tão simples,
como se possível fosse,
bastando, apenas, parar,
parar de pensar.
A mente,
esta locomotiva
ativa,
fremente,
onde residem os pensares,
não se deixa dominar
e, qual besta indomada,
nos comanda
e nos manda
sempre
avançar.
Não se pode parar
o pensamento
por um momento
que seja.
E, enquanto se vive,
o viver se direciona
para o fim.
Inexoravelmente,
tudo nos impulsiona
na direção do recomeço...
É bem assim.
E, enquanto penso se te mereço,
juro,
eu não me esqueço,
de tudo quanto, representas
prá mim.
Se mandares que eu morra,
morrerei...
Se vida me desses,
é certo que eu viveria.
Só não me ordenes
não lembrar de ti,
pois, nem que quisesse,
acredite,
como,
eu não saberia !

Tentativa 1

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Tentativa
Nélio BessanT

A quem te vê assim, mulher,
por detrás desse balcão,
imagino que terá todas as dificuldades do mundo
para avaliar aquilo tudo que, de fato, és.
Esse balcão de vidro e aço,
separando teu mundo asséptico
dos germes imundos que nosso mundo habitam,
antes de te proteger
do cruel contágio,
te expõe, de forma inteira,
embora em pedaço,
aos desejos profanos
que em minha mente se agitam...
Estás aí, qual se fora um três por quatro.
E eu, daqui, me vejo
com tela, paleta, pincéis e tintas,
no delineio,
em que amplio,
copio,
ainda que não o sintas,
do teu mais fiel retrato.
Nele não há limites.
Tudo, pela arte, a mim, permites...
Traço, forte, teu corpo nu
rabisco, nervoso, tu boca rubra
invento, reinvento,
e ajeito
...e pioro
o que é impossivel melhorar.
E, ao final do dia,
ao vê-la sair,
comparo a obra acabada
com o modelo real.
Qual...
Se eu dependesse da arte para viver
decerto morreria à míngua,
pois, vendo, ao vivo, você,
rasgo a gravura
e volto
a, apenas e simplesmente,
escrever !

Pureza

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Pureza
Nélio BessanT

Encontrei-te
quando mais precisava
encontrar alguém.
Pura graça,
puro enlevo,
puro encanto,
puro amor...
Hoje te vais
quando julgas que de ti
não preciso mais.
Continuas
pura graça,
puro enlevo,
puro encanto,
...puro engano !

Criatura

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Criatura
Nélio BessanT


Criatura da noite
eu sou...
Não daquelas
dos filmes de terror
Não !
Eu sou, da noite,
amante vadio,
destemperado
e louco.
A luz do dia
me faz mal
me cega
me judia
me nega...
Reza a lenda
que os seres da noite
são soturnos,
obscuros
escuros
e que, ao contrário,
quem vive no dia
é alegre,
claro,
límpido,
transparente
quase...
Mas, em verdade,
a noite protege
seus filhos...
Os ampara
e guarda.
Guia e ensina.
A noite é mãe
por natureza
e, por natureza,
o dia,
é pai.
A noite é
mais bela,
mais certa,
correta
e amiga,
eu diria.
Alguém acha graça,
vê beleza
na Lua
se ela aparece de dia ?

Mundo diverso

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Categoria: Especial
Mundo diverso
Nélio BessanT


'Por que empregas teu tempo,
a tal tolice, a fazer poesia ?'
Ante tua pergunta,
tão repentina
quanto vazia,
preferi calar...
Por certo,
não entenderias
o que leva alguém
a escrever poesias...
Tu vives
no mesmo mundo que eu,
mas, vês
com olhos diversos,
o meu mundo
de versos,
do teu.
Nossos dias são os mesmos,
nosso viver
que não é.
Tu valorizas o que tens,
enquanto, a mim,
poeta e louco,
o que tenho,
importa pouco
e o que mais vale
é ser.
Tens teus carros,
eu sou de paz..
Se a mesa te é farta,
a música
(cantada baixinho)
já me refaz.
Teus cartões te
ordenam gastar;
as flores me emprestam
o mais suave perfume.
Tens o prédio,
eu, só meu lar.
São tantas
as nossas diferenças
e tão grandes
e tão imensas
elas são,
que eu não teria
a capacidade
de te convencer,
um dia,
de como é bom fazer
poesia,
de quanto isto
me oferece
em moeda
que desconheces:
a simples e pura
felicidade !

Virtualidade real

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Categoria: Especial
Virtualidade real
Nélio BessanT

 

O que eu poderia esperar
de um amor virtual ?
Tão virtual
quanto pode ser
esse mundo irreal
em que, hoje,
todos vivemos
para o bem
ou para o mal.

Pouco,
é bem verdade,
muito pouco,
quase nada.

Só aqui, em frente
a esta tela fria
e, ao mesmo tempo,
ardente e brilhante,
eu te encontro
e me encanto
e me debruço
sobre o teclado
de um cinza tão claro.

E paro
e penso
e sinto.

Um amor assim
com encantos ocultos
que vagam pelo ar
difuso,
não deixando marcas,
apenas, um não-sei-quê
confuso...

Não te vejo,
apenas
te sinto,
te imagino,
te crio
em meus pensares...

Mas, se não te tenho o corpo,
finjo que te possuo
o sentimento.

E eu me engano...

Se não te toco,
a pele,
me contento
em,
a cada letra
digitada,
imaginar tua face
por mim tocada.

E mais me engano...

Imagino tua boca,
teus lábios em harmonia
com as palavras
que não me dizes
mas que me envias...

Sonho, e ao sonhar
com teu desejo,
deixo, no teclado,
que é tudo que tenho,
(ainda que frio)
para ti,
o meu mais suave beijo.

E, todo engano se desvanece..
restando,
apenas,
uma
virtualidade
que há de vir a ser real.

Sem você 18

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Categoria: Especial
Sem você
NélioBessanT

 

Hoje é domingo
outro domingo
mais um domingo
sem você
amanhã a semana recomeça,
o trabalho recomeça
a vida recomeça
sem você
Já de há muito
não vejo graça
nessa cachaça
do dia que passa
da vida que grassa
sem você
E eu me pergunto
e não encontro resposta
para esse viver
inócuo
vazio
tão frio
sem você
Quem sabe amanhã?
Volto a me enganar
a me tapear
para poder
continuar
a viver
sem você !

Por você 10

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Categoria: Especial
Por você
Nélio BessanT

 

Este sofrer que não finda,
este viver que não cessa,
esta dor que não morre,
esta ausência que não se preenche...
Tudo ao alcance de meus olhos
de minhas mãos
de meus sentidos
tudo
tudo
me lembra você
e, nada, de você
e a dor que não cessa
e a lágrima que não basta
e a canção que não sai
e o sol que não vem
e você que não é!

Borboletas 2

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Borboletas
Nélio BessanT

De borboletas entendo pouco.
Entendo, sim, de amores
E de desamores, também entendo !
(e como entendo !)
Sei pouco (ou quase nada) da vida
Da morte sei menos ainda
Me encanta a beleza,
o verbo,
o verso,
o som da chuva
e do vento.
Me encanta você !

Trovas ao vento

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Trovas ao vento

Ao ter a mesa inventado,
quem o fez queria ver,
um boêmio embriagado
sozinho nela a beber ?



 



O médico no plantão
nas filas do INSS,
faz das tripas, coração,
pois, menos... ninguém merece.



 



Epiderme... pele fina
sei que isto é uma constante.
Mas prá pele de menina,
não prá pele de elefante !



 



Urtiga, planta do mato
diz que coça sem parar...
É um 'pó-de-mico' de fato
prá quem gosta... de coçar.



 



Com tristes traços foi feita
quem hoje jaz, esquecida:
velha tela que hoje enfeita
os porões da minha vida.



 



Debaixo de um sol ardente,
num calor insuportável,
não há trovador que agüente
trovar e ser agradável.



 



Me chamaram de teimoso,
respondi que não sou não !
Bato o pé, fico nervoso,
mas... é teimosia não !



 



Praia brava, erma, escondida,
assim és tu para mim.
Se sou mar, fonte da vida,
sou teu princípio, és meu fim.



 



Feitiço é coisa que cola;
depende de quem jogou.
Se é de sogra, extrapola,
se é de 'ex'... extrapolou !



 



Boneca, ao colo embalada,
nos afagos da menina...
A mãe vai sendo forjada
e nem sequer imagina.



Estranho, às vezes me sinto
mesmo estando ao lado teu.
Não quero mentir mas minto.
Parece que eu não sou eu...



 



Romantismo, hoje em dia,
é bobagem, há quem diga.
Só o poeta, quem diria,
para bobagem ainda liga.

- Romantismo, coisa antiga
coisa velha, meu senhor.
- É que, talvez, minha amiga,
venha lhe faltando amor.



 



Ventilador assoprando,
um calorão desgraçado.
Parece que estou assando ?
Por certo já estou assado !



 



- A salvação vem de longe !
Escuto a grita na rua.
Olho ao redor, vejo um monge,
tentando 'salvar' a Lua !



 



Covardia, companheiro,
é defeito muito grave.
É, no pênalti, o goleiro,
rezar por bola na trave !



 



Como é bravo, o delegado
que em minha cidade atua.
Não há bandido ou safado
circulando pela rua.



 



Orelhas ? Eu tenho duas,
para poder lhe escutar.
Mas não me venha com as suas
se não, não dá prá agüentar.



 



Por um chamego, não nego
minha linda, eu me acabo.
Por seu chamego me entrego,
me entrego e, depois... desabo.



 



Papoula é nome de flor,
também o é de mulher.
Pouco importa qual a cor,
eu aceito a que vier.



 



Batina velha, surrada,
que usa o cura da cidade,
é a prova mais bem provada
do valor da humildade.



 



Quando a cobra chegou perto
e encarou 'Eva e Adão',
deve ter pensado, ao certo:
- O Senhor errou a mão !



Um grande espanto senti
ao tirar o meu extrato.
Foi o mesmo que eu vivi,
quando vi o seu retrato.



Gota de orvalho que brilha
na luz do sol, no jardim.
É uma sutil armadilha
que a beleza armou prá mim



 



O bar é templo sagrado
Nele habitam seres 'puros':
Cachaça, rum, destilados,
Vermutes claros e escuros...



 



Se a mim, pouca vida resta,
eu quero que ela assim seja:
muito riso, muita festa,
muito amor, muita cerveja !



 



Enche a cara, até transborda...
Diz que tem urucubaca.
Se bebe logo que acorda...
- É prá curar a ressaca !



 



'Não dê pinga para o santo
- no boteco estava a escrita -
que o santo aqui deste canto
não é chegado a mardita'



 



Violão, tu vens do pinho,
do barro, te afirmo, eu vim.
O teu som é um torvelinho
são teus acordes, meu fim !



 



Por você, juro, eu faria,
a mais dura penitência:
nem cerveja eu beberia
prá curtir a sua ausência !



Prova a existência de Deus,
o fato de eu existir.
Pois, com tantos erros meus,
demoro tanto a partir...



 



O esforço não surte efeito...
Você tenta e não consegue...
Vai tentando de outro jeito
antes que o diabo o carregue.



 



Um aumento... de salário...
há muito tempo eu espero.
Mas meu chefe, salafrário,
de aumento meu deu ...um zero !



 



É mandar meu chefe embora,
meu desejo mais premente.
Se o chefe é minha senhora,
como espera que eu agüente ?



 



Mulher passa fome em casa...
Se o marido dá bobeira,
essa mulher cria asa,
vira 'franga botadeira'.



Lá no quintal do vizinho,
tem muita coisa engraçada:
tem ninho de passarinho,
tem pássaro de ninhada.



 



Tem um final conflitante,
toda estória mal contada
com passarinho e elefante
se mandando em revoada...



Da vida que a gente leva,
pretendo nada levar.
Este viver não me enleva
nem quero me enlevar.



 



Mostre uma linda morena,
e eu lhe direi, com certeza:
- Tanto faz que seja Helena,
nem me importo se é Tereza



 



Eu não gosto de mulher !
Afirmou-me o Wanderlei...
O que mais que ele quer ?
Que lhe chamem 'Wandergay' ?



 



Perdão não se pede à toa,
só pede quem já pecou.
Por isso que se perdoa
quem sempre se perdoou.



 



Natal! A ceia na mesa...
Traz-me à lembrança, meus pais
me demonstrando a beleza
de inesquecíveis natais...



 



Natal ! A ceia na mesa...
A família radiante
nem se lembra... que tristeza,
quem é o aniversariante !



 



Natal ! A ceia na mesa...
E num cantinho da sala,
no presépio, a Natureza,
o Filho de Deus, embala.



 



Com bom humor, esta vida
deve ser por nós regada.
Se não for assim vivida,
a vida não vale nada !



 



De ovinho de codorna
lhe garanto, não preciso,
se a coisa anda meio morna,
se alevanta com um sorriso.



 



Qual mariposa solteira,
que vive em volta da luz,
você faz tanta besteira
que a má fama já faz jus.



 



Em sol maior e com primas,



ao meu amor eu dou prova,



que é do bom uso das rimas,



que nasce a mais bela trova...



 



Até o sisudo pastor,
quando a vê, tem um chilique.
A mulher do Claudionor,
é mesmo prá lá de 'chic'.



 



Eu sinto orgulho do tema,
quando o tema poesia.
Se dela faço o meu lema,
nela só tenho alegria !



 



A métrica é um postulado
que rege a trova; é uma lei.
Da trova de pé quebrado...
O que eu penso ?... Não direi !



 



Recado do coração ?
Dá sufoco, dor no peito ?
Bate uma, outra não ?
Coração ´tá com defeito...



 



Modernidade ao compor
é o que o desejo comprova:
dê-lhe, então, que nome for,
só não lhe chame de trova !



 



Não basta, apenas, querer.
O trovador que diz sê-lo,
precisa, além de saber,
ter talento ou, então... não tê-lo



 



De coração apaixonado
eu entendo muito pouco.
O meu só vive assustado,
pulsa e chora feito louco.



 



Um coração estressado,
magoado, com desamor,
por certo estará fadado
a morrer envolto em dor...



 



Vivida em cores de dor,
era tão grande, a paixão,
que eu nem sei qual era a cor,
se era paixão... não sei não!



 



Sacrifício bem pequeno,
tu fizeste, ao me deixar.
Até hoje eu me condeno
por ter que te condenar...



 



O perdão é o grande bem
dos puros de coração,
e é do coração que vem,
a pureza do perdão.



 



A dar um sim à vaidade,
prefiro um 'não' bem austero.
Com toda sinceridade,
prefiro ser bem sincero !



 



Há muito termo na língua
que ao bom macho compromete:
quem 'insere', morre à míngua,
quando insere... um croquete.



 



Queijo coalho, queijo minas,
muzzarela, gorgonzola,
iguarias das mais finas
que ao meu paladar consola.



 



Empada sem azeitona,
sem ter tempero e sem sal,
sanfoneiro sem sanfona
se não faz bem, não faz mal...



 



Eis o sonho do pau-d´água,
quando vai ao piquenique:
afogar a sua mágoa
num delicioso alambique !



 



...e nem se lembra da rima,
quem, do amor, já se esqueceu,
quem perdeu a auto-estima,
quem, por saudade, sofreu...



 



Cobrem o seio dos campos,
açucenas, margaridas...
A noite são pirilampos,
que, os prados, enchem de vidas.



 



'Perfumam' todas as estradas,
todos caminhos da roça,
as porcarias deixadas
por muares de carroça.



 



O remédio é um novo amor,
prá curar paixão antiga.
Coração de trovador,
curte amor, não curte briga...



 



Quero outra vez ser menino,
e acertar onde eu errei.
Poder mudar meu destino,
não te amar como eu te amei !



 



Visão de minha janela,
mais esplêndida não há:
bem em frente, a casa dela
e a janela onde ela está !



 



Vivendo só do salário,
muito embora boa gente,
o 'saldo' do Olegário,
deixa vermelho o gerente.



 



Dinheiro, principalmente,
prá mim, é problema não !
Dinheiro, logicamente,
sempre foi a solução !



 



Sem sorte mesmo, é o Conrado,
sujeito de boa linha:
ele não chifra, é chifrado,
pela infiel mulher Zinha.



 



'Manso' logo lembra corno,
esta palavra pesada
que a muitos causa transtorno
e ao manso, não causa nada !



 



O perdão é mais completo
quando inclui o esquecimento,
pois não basta só afeto,
é preciso envolvimento.



 



Numa taça de um bom vinho,
daqueles de boa origem,
existe, sempre, um pouquinho
de uma suave vertigem.



 



Dançar juntos não dá pé...
Diz o jovem moderninho.
Mas que é gostoso, isto é,
dançar bem agarradinho.



 



Paraqueda... para tê-lo
fica caro prá chuchu..
Para queda de cabelo
recomendo um bom xampu !         



 



Ninho pobre, ninho tosco,
fui eu mesmo quem o fez...
A paixão ninhou conosco,   
agora  já somos três!



 



                                Louvar a mãe num só verso ?



Impossível !  Eis a prova:



 o amor maior do Universo



não cabe numa só trova !



 



Um poeta que se prima,



os seus dotes põe à prova:



das palavras, faz a rima,



e das rimas... faz a trova.



 



Não te juro eterno amor,



que vou te amar sempre mais,



pois,  amor rima com dor



e “sempre” é tempo, demais.



 



Meu filho, ouça o que eu digo:



- Viva a vida sempre reta.



E, ao buscares um amigo,



seja amigo de um poeta.



 



Prá  muitos  homens, na vida,



fortuna  nada  mais  é



que  o  amor  da  mulher  querida



num  ranchinho  de  sapé !



 



É muito  antiga  a  receita,



prá  quem  a  fortuna  almeja:



ao  dares  c’o  a  mão  direita,



não  deixes  que  a  esquerda  veja !



 



 



É no passado da gente



que está o que hoje somos,



pois, nós somos, no presente,



imagem do que já fomos.



 



Ensinamento mais puro,



que nos oferta, a semente:



só se colhe, no futuro,



o plantado no presente.



 



Na vida acredito, ainda,



por um motivo somente:



uma netinha tão linda,



que Deus me deu de presente



 



Sou boêmio... e, se procuro,



na noite, espantar o tédio,



meu amor, por Deus eu juro,



só você sabe o remédio...



 





Costume dos mais antigos,



esse trio ninguém bate,



une todos, faz amigos:



cuia, bomba e erva-mate.



 



A idade, meu senhor,



na mulher, faz a magia:



de dia é toda calor,



na cama quente ela esfria...



 



                                No calor da meia-idade,



um velhote se atrapalha:



por não ter virilidade,



pifa uma, a outra falha...



 



No calor do rala-e-rola



meu vizinho, “seo” Rosário,



quando moço, foi frajola,



                               hoje é “sex”...sagenário !



 



                               &

Amigo virtual 2

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Categoria: Amor

Amigo virtual
Nélio Bessant


É comum vermos as crianças conversando com seus amiguinhos invisíveis. Conversam, brincam, aprendem com eles. Os amiguinhos invisíveis são primordiais no desenvolvimento afetivo e social das crianças. À medida que elas vão crescendo, aquelas entidades se afastam, até mesmo pela própria condição espiritual de cada uma. Assumem novas tarefas em outros planos. Para o ser humano, essa separação se dá ainda na segunda infância, ou, no máximo, na entrada da adolescência. Ao ver-se sozinho, o adolescente é forçado a se adaptar ao seu novo mundo. Daí, talvez, todos os conflitos próprios da fase.


Esta constatação nada tem de científico, nem pode ser comprovada. É minha. É a minha verdade.


Na minha idade, tenho amigos reais e também os tenho no plano virtual.


Um desses virtuais (atende pelo nome de Oswaldo), extremamente sensível, veio ter comigo ainda ontem.


- O que está acontecendo com você, meu amigo? - perguntou-me.


- Comigo? Nada ! Está tudo bem, tudo ótimo - tentei disfarçar.


- Ah ! deixa disso, cara ! Comigo você pode se abrir. Diga lá.


- Verdade mesmo, não há nada de errado comigo - tornei a mentir.


- Então tá! Você se esquece que por eu ser virtual, tenho prerrogativas que você não tem; vou onde você não pode ir; vejo coisas que você não vê; sei de coisas que você não sabe...


- E daí? indaguei curioso.


- Daí que eu sei, e muito bem, o que está havendo com você. Sei que você está muito mal. Só queria que você mesmo me contasse, pusesse prá fora a dor que você está sentindo em seu peito. Seria bom prá você e tornaria mais fácil a minha tarefa de ajudá-lo. Aliás, eu vou ajudá-lo de qualquer forma, mas é melhor que seja como deve ser: você me contando tudo e me pedindo auxílio, certo?


Confesso que fiquei surpreso. Não conhecia tais 'poderes' dos amigos virtuais. Mas, achei melhor não contrariar quem se dispunha a me ajudar. E, timidamente, a princípio, abri meu coração com meu amigo. Ele se manteve calado o tempo todo em que eu falava, e, à medida que os detalhes iam enriquecendo minha narrativa, ele parecia mais se interessar por meu caso (como se ele já não soubesse de tudo).


Ao final de meu relato, de coração mais leve e com o rosto ainda úmido pelas lágrimas que o banharam, após um breve silêncio de nós dois, tive coragem de perguntar:


- E então, brother? Há remédio? Você vai poder me ajudar de alguma forma?


- Mas claro - disse-me ele quase num sussurro - Estou aqui prá isso. Posso e vou ajudá-lo. Só não posso antever o resultado de minha ajuda. Isso não me é permitido saber. Até nós, virtuais, temos nossas limitações.


Dizendo isso, enfiou a mão no bolso da túnica azul claro que trajava, e de lá retirou um pequeno pergaminho enrolado, envelhecido pelo tempo, e, ao passá-lo prá mim, sentenciou:


- Ofereça isto a ela. É tudo que posso fazer por vocês. É a última coisa que você pode fazer por ela. A beleza tem o dom divino de tocar o coração das pessoas.


Abri o velho pergaminho e, lá, vi escrito o que aqui copio para você, minha linda musa:


M E T A D E


"Que a força do medo que eu tenho


não me impeça de dizer o que anseio


Que a morte de tudo que acredito


não me tape os ouvidos e a boca


porque metade de mim é o que grito


mas a outra metade é silêncio.


Que a música que ouço ao longe


seja linda, ainda que tristeza.


Que a mulher que eu amo


seja para sempre amada


mesmo que distante.


Porque metade de mim é partida


e a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo

não sejam ouvidas como prece


nem sejam repetidas com fervor.


Apenas respeitadas


como a única coisa


que resta a um homem


inundado de sentimento.


Porque metade de mim é o que ouço


mas a outra metade é o que calo.


Que esta minha vontade de ir embora


se transforme na calma e na paz


que eu mereço.


Que essa tensão que me corrói por dentro


seja um dia recompensada.


Porque metade de mim é o que penso


e a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste


e que o convívio comigo mesmo


se torne, ao menos, suportável.


Que o espelho reflita em meu rosto


um doce sorriso que me lembre


o viver da infância.


Porque a metade de mim é lembrança do que fui


a outra metade... não sei.


Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria


prá me fazer aquietar o espírito.


E que o teu silêncio


me fale cada vez mais.


Porque metade de mim é abrigo


mas a outra metade é cansaço.


Que o amor nos aponte uma resposta


mesmo que ele não saiba


e que ninguém o tente complicar.


Porque é preciso simplicidade


para fazê-lo florescer.


Porque metade de mim é platéia


e a outra é canção.


E que a minha loucura seja perdoada


porque metade de mim é amor


e a outra metade...


também ! "

Cena patética

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Categoria: Amor

  Cena patética


EUREKA !!! BINGO !!! BOMBA !!! BOMBA!!!


Como ainda não havia pensado nisso antes?


Esse argumento é definitivo, irrefutável.


Não acredito que tenha sido possível tê-lo deixado passar em brancas nuvens.


Se fosse em uma prova de vestibular eu estaria sumariamente reprovado por falta de atenção aos detalhes mais importantes.


Como assim ? Como 'qual argumento' ?


Você também não prestou atenção à aula ?




Caramba, eu havia esquecido que existem muitas semelhanças entre nós dois. Será que essa falta de atenção é mais uma delas?


Fugindo um pouquinho do assunto, não diz a Física que são os opostos que se atraem? Não é isso? Se você me é tão igual, como posso ser atraído tão fortemente para você?


Eu sei a resposta. Você sabe?


Bem, voltando ao assunto principal, você já deve estar suficientemente curiosa para saber qual a descoberta tão significativa que eu fiz, não é verdade? Se você teve a paciência de ler até aqui, percebeu que eu escrevi, escrevi, escrevi... e não escrevi nada.


A esta técnica dá-se o 'poético' nome de 'embromacion', técnica esta muito utilizada por publicitários criativos e políticos inescrupulosos (desculpe a redundância). Pessoas 'normais' raramente lançam mão de tal artifício, não por falta de talento ou vocabulário, mas, sim, porque se tornam irritantemente chatas.


Veja você: consegui a façanha de prender sua atenção e trazê-la até aqui sem ter dito uma só coisa que fosse interessante.


'Tá bom, 'tá bom ! Não pare de ler. Já que você chegou até aqui, não custa muito ir até o final.


Imagine o seguinte cenário: peraí, vamos por parte. É prá imaginar com gosto, com vontade. Isso, assim... Imaginação... Imagem em ação. Crie o quadro mental da situação e viva-o com a vontade e a nítida impressão que ele está, realmente, acontecendo. Vamos lá? Ótimo, perfeito. Assim mesmo. A isso dá-se o nome de IMAGINAÇÃO, o que assim não for, será, apenas, pensamento.


Voltando a fita. Imagine duas pessoas que não se vêem há, digamos quinze ou vinte anos - algo assim - vindo em direções opostas em uma rua qualquer, de uma cidade qualquer. Estão tão envolvidas em seus pensamentos, que ao esbarrarem uma na outra, nem se dão conta de em quem bateram. Adiantam-se, os dois, para se desculparem. Só aí, então, se olham nos olhos.


Uma descarga elétrica de zilhões de volts percorre aqueles corpos ali parados, estáticos a olharem um para o outro.


- É ela - ele pensa.


- É ele - pensa ela.


O tempo de reação que ambos tiveram foi o mesmo. Eles sempre tiveram muito em comum.


Deixaram de tentar há quinze ou vinte anos, sei lá... Ela por convicção de que era o melhor; ele por puro cansaço e por não encontrar um meio de demovê-la de seus princípios.


Cada qual, então, seguiu seu caminho, sabendo que abriam mão, no mínimo, do direito de tentar.


Hoje, já próximos de dar por cumprida a tarefa dessa etapa da roda da Vida, podem avaliar melhor, embora muito tardiamente, o quando deixaram de viver.


Como em uma simbiose perfeita, os mesmos pensamentos chegam, ao mesmo tempo, para aqueles dois seres que, um dia, se quiseram e que um dia se desistiram.


Hoje ambos são sós. Daquela época restaram os filhos, vieram os netos e a certeza de que o fim não tarda.


Timidamente, sem se tocarem, se desculpam um com o outro, se dão as costas, se vão, se morrem.


Pano rapidíssimo sobre o cenário que já está a meia-luz.


Até lá, minha amada ! Ou não.

Mio cuore

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Categoria: Amor

Mio cuore
Nélio Bessant


Quando a maca empurrou a primeira porta do Pronto Socorro, eu me dei conta que estava mal, muito mal. O lençol branco que cobria meu corpo dolorido estava muito manchado pelo sangue que eu perdia.


Ouvi, ainda que meio longe, o burburinho causado entre médicos e enfermeiras, pela chegada da maca que me transportava. Afinal, a ambulância chegara ao hospital com a sirene ligada a todo volume, como exigia a urgência do caso.


O transportado estava à beira da morte. Sangrava muito e a hemorragia não dava sinais de querer parar. E era eu, ali, a me esvair em sangue...


Mais tarde vim a saber que os especialistas - Drs. Johnnie & Walker, não poderiam me atender pois estavam em outra festa - digo, outra emergência. Na ausência daqueles especialistas em problemas de , quem se dispôs a cuidar do meu caso foi outro médico, mais jovem, com apenas oito anos de envelhecimento, ou melhor, de formatura: Dr. Ballantine's. Sujeito frio, mas competente e eficaz. Sua interferência, fez com que, quase que imediatamente, meu parasse de sangrar. Quando digo 'quase imediatamente', estou me referindo a algo assim como oito ou dez dias. Mas a se considerar o estado deplorável em que eu me encontrava...


O Dr. 'Bala' (como o chamam os mais íntimos), além do atendimento de urgência urgentíssima que o caso requeria, usou de outras técnicas modernas e reparadoras para tratar de  . Empregou uma sutura líquida que deixou 'mio cuore' quase novo, embora com visíveis cicatrizes.


Resumindo bastante a estória para não ser enfadonho: receitou-me, como único remédio, a música; lenitivo capaz de afastar o tédio do dia-a-dia e combater com eficácia, a depressão que pode se instalar no paciente em casos semelhantes, como diz a crônica médica.


Posso afirmar que saí renovado desse 'affair'. Ainda doía, é verdade... Mas já não sangrava.


Ontem à tarde, após receber um telefonema tão esperado nos últimos dias, notei que o bolso esquerdo de minha camisa azul-claro, estava avermelhado. Era sangue... Acho que a cicatriz se abriu... Mas se for por você, juro que vale a dor. Vou até a farmácia mais próxima, compro uma caixinha de band-aid, canto uma canção em tom maior e tento resolver tudo sozinho.


Afinal, meu plano de saúde não cobre recaídas...

Tempos de criança

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Categoria: Amor

Tempos de criança
Nélio Bessant


Minha linda:


Dos meus idos e felizes tempos de infância, guardo na memória muitos fatos e diversas sensações experimentadas. Algumas tristes, outras - a grande maioria - alegres, muito alegres. Tenho daquela época, evocações indescritíveis, como, por exemplo, a memória olfativa de um aroma agridoce que eu percebia sempre que passava pela porta de um determinado armazém de secos e molhados que se situava nas proximidades do Mercado Municipal de minha cidade. Só muitos anos mais tarde, ao sentir o mesmo aroma, num passeio por Paraty, vim a descobrir que se tratava do cheiro gostoso do açúcar mascavo, exposto em sacas abertas, para a venda no varejo. E, assim são muitas das minhas lembranças....


Uma outra recordação interessante - embora dolorida e até, por que não dizer, um tanto asquerosa, é a memória que tenho dos pequenos ferimentos e arranhões que sofria em face de uma queda ou topada com o dedão do pé descalço, andando pelas ruas ainda sem calçamento. Cada arranhão produzia, invariavelmente, uma pequena ferida, que, pelo do processo de cicatrização, se transformava em uma (como dizer isto sem ser nojento ?)... uma 'casquinha' (acho que assim fica menos ridículo). Pois bem, tirando a dor da topada ou da queda, o que restava era o puro prazer - embora um tanto mórbido - de, aos poucos, ir arrancando as casquinhas da ferida... AAAARRRGGGG, EEEECCCAAA !!!


A grande compensação de tudo isso, era ver a pele novinha em folha sendo refeita pelas células do corpo. Maravilhas da Mãe Natureza.


Mantidas as proporções, os ferimentos de meu coração são parecidos com os da minha infância. E o seu telefonema não machucou 'mio cuore' nem um pouquinho. Antes, pelo contrário: me proporcionou a imensa felicidade de sentir a gostosa dor experimentada na distante infância. Tudo que você fez, foi tirar a 'casquinha' que recobria a ferida que estava quase cicatrizada. Mas, sob ela, pude ver um coração pulsando alegre e bem disposto. Como já disse, ainda sangra, mas não dói mais.


Hoje eu estou, digamos, meio 'sangüinolento'. Espero que você não se impressione com minhas bobagens.


Não preciso interromper, mas o faço... ficaria o dia todo escrevendo pensando em você, mas você ficaria cansada de tanto ler tanta bobagem... Mio cuore é assim mesmo: um grande tolo que acredita nos sentimentos e pulsa por eles, apenas por eles.

Para não dizer que não falei de amores

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Categoria: Amor

Para não dizer que não falei de amores
Nélio Bessant


Hoje me peguei meio poeta, meio louco, completamente no mundo-da-lua.


Me peguei com vontade de falar de flores... e de amores. Afinal, flores e amores têm muito em comum.


Têm um ciclo igual de vida. Nascem, crescem, florescem e, inevitavelmente, morrem.


Nascem sem pedir licença nem explicar porquê.


Crescem independentes de nossa vontade. Não podemos atuar sobre o que é natural.


Todos, sem exceção, florescem, perfumam a vida, encantam os sentimentos, liberam belezas.


Porém – e sempre há um porém – um dia morrem. Uns mais tarde, outros muito cedo. Mas – como isso é lamentável – todos morrem.


Mas ao invés de me prender no que é triste, vale mais vivenciar o que há de belo neles – os amores e as flores.


Se as flores nos dão – gratuitamente – seu perfume, os amores nos apontam com toda graça, a certeza de que estamos vivos e somos importantes dentro de nosso microcosmo.


Enquanto elas, as flores, pintam o cenário com a exuberância de suas cores,. eles, os amores, nos fartam os sentimentos com sua simples presença sentida.


Se as flores enfeitam a vida, os amores lhe dão um norte.


Se as flores são uma dádiva, os amores são nossa sorte.


Sem eles – flores e amores – a vida fica pela metade. Perde muito do seu sentido. Fica devendo prá nós.


Hoje me peguei poeta...


No primeiro jardim que vi, logo pela manhã, admirei as flores; senti seu perfume; valorizei suas cores...


Hoje me peguei poeta...


Enquanto as flores estão vivas, ao menos elas eu tenho.
Mas elas, por fim também morrerão.


Hoje me peguei triste e incompleto poeta.


Flores, lindas flores para você, minha linda !!!

Búndegas

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Categoria: Especial

Búndegas
Nélio Bessant


Antes de mais nada, vamos deixar claro que não compactuo com certas hipocrisias que assolam nosso dia-a-dia. Por exemplo: se braço é braço, perna é perna, boca é boca, seio é seio, e assim por diante, então bunda é bunda, e não se discute mais. Que estória é esta de se chamar bunda de 'bumbum' ? Além de preconceituoso, o termo é extremamente infantil e inapropriado. Qual é o problema de se nominar a bunda pelo próprio nome ? Não há nada pejorativo ou imoral de se chamar a bunda de bunda, assim como o pé de pé, ou a mão de mão, nariz de nariz, etc. etc. etc. Derrière ? Chique mas muito piegas, afetado demais prô meu gosto. Nádegas ? Não, nádegas, não, por favor.


Isto posto, fica mais fácil continuar a escrever de forma a mais natural possível, sem querer ser hipócrita ou dissimulado.


Como diria a rapaziada: tipo assim, tá ligado ?


Um de meus poucos amigos, tem a incrível mania de se apaixonar por partes do corpo do sexo oposto. Já o vi, extasiado, completamente envolvido por dois olhos verdes.


- Você viu a cor dos olhos dela ? São verdes. Mas não um verde qualquer. São verdes assim como de uma fruta que está no limiar do seu tempo de ser colhida. Se passar dali, estraga. Coisa mais linda. Nunca vi nada igual. Estou apaixonado por aqueles olhos...


Ele, meu amigo, é assim mesmo. De outra feita, encantou-se pelo mais perfeito par de pernas que disse existir neste mundão de meu deus. Houve, também, a paixão por uns lábios vermelhos muito bem formados; por um belo decote d’um vestido de seda (na verdade, o objeto da paixão não era o decote, era sim, seu conteúdo)...


Enfim, o cara tem o fraco de se deixar levar por partes da anatomia feminina. Braços ou penas bem torneados, nariz afilado, empinadinho, mãos delicadas, dedos longos. Tudo é alvo de seus amores...


Ah! sim, é lógico: bundas... Bundas fartas, rechonchudas. Bundas pequeninas, bundas médias, bundas enormes. Em se tratando de bundas, ele não faz distinção: ama todas elas. Aliás, esse é o seu fraco: bundas.


- Cara, aquela bunda me deixou encantado, louco mesmo. Coisa de doido, meu ! Como é que pode existir uma bunda assim ?


Enfim, essa é a tara do cara.


Como já disse, ele ama o sexo feminino, só que por partes. Algo assim como Jack, o Estripador. Mãos, braços, pernas, pés, orelhas (eu não falei de orelhas ? mas ele também adora orelhas), boca, seios, coxas, e, naturalmente... bundas.


Dia desses me peguei meio acabrunhado, pensando nesse meu amigo que há tempos não vejo. O que será que ele está amando neste exato momento ? Eu não pensei em 'quem será'. Pensei, óbvio, 'o quê será'... Ao mesmo tempo em que avaliava o erro de se apaixonar por uma parte específica do corpo de alguém, comecei a matutar se essa não seria a melhor solução para quem sofre dos males da paixão... Afinal, parece ser mais vantajoso trocar-se a admiração, ou mesmo a paixão por um belo par de coxas, por outro. Sim, pois coxas existem ao bilhões. E, em condições normais, são sempre duas por pessoa. Olhos, braços, orelhas, mãos (dedos são mais ainda) tudo em duplicidade...


Apaixonar-se pelo 'conjunto acabado da obra' dá muito trabalho (eu, romântico sonhador, que o diga).


Pois é, acho que meu amigo é quem está certo.


Vou pensar melhor sobre o assunto.


Enquanto isso, se me dá licença, estou de saída. Estou vendo vir ali, descendo a rua, uma linda, encantadora e 'felomenal' búndega. Dá licença, pois, afinal, eu não sou de ferro e hoje estou meio porno-poeta. Coisas da vida.


PS: aquela dor horrível da saudade 'tá passando.  Agora só dói quando eu respiro.
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