Cena patética










Cena patética
EUREKA !!! BINGO !!! BOMBA !!! BOMBA!!!
Como ainda não havia pensado nisso antes?
Esse argumento é definitivo, irrefutável.
Não acredito que tenha sido possível tê-lo deixado passar em brancas nuvens.
Se fosse em uma prova de vestibular eu estaria sumariamente reprovado por falta de atenção aos detalhes mais importantes.
Como assim ? Como 'qual argumento' ?
Você também não prestou atenção à aula ?
Caramba, eu havia esquecido que existem muitas semelhanças entre nós dois. Será que essa falta de atenção é mais uma delas?
Fugindo um pouquinho do assunto, não diz a Física que são os opostos que se atraem? Não é isso? Se você me é tão igual, como posso ser atraído tão fortemente para você?
Eu sei a resposta. Você sabe?
Bem, voltando ao assunto principal, você já deve estar suficientemente curiosa para saber qual a descoberta tão significativa que eu fiz, não é verdade? Se você teve a paciência de ler até aqui, percebeu que eu escrevi, escrevi, escrevi... e não escrevi nada.
A esta técnica dá-se o 'poético' nome de 'embromacion', técnica esta muito utilizada por publicitários criativos e políticos inescrupulosos (desculpe a redundância). Pessoas 'normais' raramente lançam mão de tal artifício, não por falta de talento ou vocabulário, mas, sim, porque se tornam irritantemente chatas.
Veja você: consegui a façanha de prender sua atenção e trazê-la até aqui sem ter dito uma só coisa que fosse interessante.
'Tá bom, 'tá bom ! Não pare de ler. Já que você chegou até aqui, não custa muito ir até o final.
Imagine o seguinte cenário: peraí, vamos por parte. É prá imaginar com gosto, com vontade. Isso, assim... Imaginação... Imagem em ação. Crie o quadro mental da situação e viva-o com a vontade e a nítida impressão que ele está, realmente, acontecendo. Vamos lá? Ótimo, perfeito. Assim mesmo. A isso dá-se o nome de IMAGINAÇÃO, o que assim não for, será, apenas, pensamento.
Voltando a fita. Imagine duas pessoas que não se vêem há, digamos quinze ou vinte anos - algo assim - vindo em direções opostas em uma rua qualquer, de uma cidade qualquer. Estão tão envolvidas em seus pensamentos, que ao esbarrarem uma na outra, nem se dão conta de em quem bateram. Adiantam-se, os dois, para se desculparem. Só aí, então, se olham nos olhos.
Uma descarga elétrica de zilhões de volts percorre aqueles corpos ali parados, estáticos a olharem um para o outro.
- É ela - ele pensa.
- É ele - pensa ela.
O tempo de reação que ambos tiveram foi o mesmo. Eles sempre tiveram muito em comum.
Deixaram de tentar há quinze ou vinte anos, sei lá... Ela por convicção de que era o melhor; ele por puro cansaço e por não encontrar um meio de demovê-la de seus princípios.
Cada qual, então, seguiu seu caminho, sabendo que abriam mão, no mínimo, do direito de tentar.
Hoje, já próximos de dar por cumprida a tarefa dessa etapa da roda da Vida, podem avaliar melhor, embora muito tardiamente, o quando deixaram de viver.
Como em uma simbiose perfeita, os mesmos pensamentos chegam, ao mesmo tempo, para aqueles dois seres que, um dia, se quiseram e que um dia se desistiram.
Hoje ambos são sós. Daquela época restaram os filhos, vieram os netos e a certeza de que o fim não tarda.
Timidamente, sem se tocarem, se desculpam um com o outro, se dão as costas, se vão, se morrem.
Pano rapidíssimo sobre o cenário que já está a meia-luz.
Até lá, minha amada ! Ou não.