Paulo Roberto | Poesias e Mensagens Virtuais

Mensagens de Paulo Roberto

Como alimentar o sonho dos que dormem?

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Família
   Como alimentar o sonho dos que dormem?



A intromissão dos pais na vida e nos planos dos filhos é o bastante para instalar-se a discórdia, sobretudo por quem nunca valorizou as coisas simples e naturais da vida.
Não significa que o pai desacerte os passos e os detalhes dos sonhos materiais dos seus, mas porque o homem considerado antiquado não é o mesmo tipo que ostenta as passarelas do glamour. A diferença é que os pais querem o melhor para o grupo e a verdade é que o tempo tem se encarregado de realizar as mudanças, sobretudo porque as mentes ainda travam verdadeira batalha e resistência contra aquilo que seja considerado certo ou errado, e isso são apenas detalhes. Analisando a versão da outra parte (a de suporte e provisão), a história é vista de ângulo e versão convincentes.
Todos almejam o melhor, mas a divisão nem sempre é em grupo. Estudar nos dias de hoje é ideário cumulativo de riqueza e conhecimento, e a especialidade mesmo provém da primeira pretensão. Sem recursos, não se decola. Sou de um estado pobre onde milhares de estudantes procuram outros países imbuídos de sonhos que lhes transponham as ações do brincar de médico à realidade. É a saúde em contracena com hábitos e costumes da vida humana.
Os pais também se amoldam no perfil dos esquecidos. Como não detêm o poder dos deuses, devem suportar o fardo do famigerado endividamento. São os primeiros a dar suor e lágrima aos filhos e as prestações de suas lutas são fielmente listadas nas faturas mensais que acumulam.
Essas coisas normais do dia-a-dia fizeram-me recordar da situação de um senhor pobre que passou a vida inteira tentando, com sacrifício e honestidade, adquirir um lar tranquilo e assim repassar a educação obtida aos filhos. Com pouca economia comprou um carro usado que só lhe rendeu dor de cabeça. A filha, cheia de razões e exigências, matriculou-se em instituição estrangeira no curso de medicina, na fronteira. Ele continuou otimista e não pensou duas vezes em novas dívidas na expectativa do tornar realidade o sonho da jovem. Acabou por esquecer as benfeitorias do imóvel, do reparo do carro, da vida cômoda idealizada e mergulhou fundo nas dívidas feito aplicação de rendimentos imprevisíveis.
A filha, não se sabe como, ao contrário, distante de casa e dos ensinamentos primários dos pais, fazia loucuras noturnas, e, assim, suas notas não significavam nada além do fracasso pessoal. Despia-se a troco de alguns trocados para alimentar o vício da vaidade.
Um dia o pai adoeceu. Acometera-se de câncer e de preocupações múltiplas conquistadas ao longo de tanto sacrifício. Faltou recurso essencial do bom idoso a proporcionar-lhe a continuidade dos estudos. Teve então de sair do salto, trancar o curso para nunca mais voltar, não por suas expensas.
Liberado do hospital para o último adeus aos amigos e parentes, retornou o idoso ao lar, agora edificado de profunda solidão, tristeza e abandono. Já não dispunha dos mesmos sonhos, da saúde e dos sinais vitais que lhe recuperassem. E do imóvel em estado deplorável punha-se a olhar do telhado entreaberto para o céu azul e promissor, e sua visão remetia ao imaginário de carneirinhos enfeitados deslizando suavemente na via celeste. Os parentes se foram, os filhos já se encontravam afastados.
Aqueles que, enfermos, não dispõem de recursos num momento de crise é como se o maior tesouro lhes ofusquem a visão. Tudo sem sorte, tudo milimetricamente sacrificado por um objetivo: proporcionar condições e uma vida digna à família, que se esvaiu das mãos calejadas.
Para aquele que passou a vida inteira trabalhando e sonhando com o descanso, agora pedia a Deus uma morte sem tanta dor. Adormeceu tal qual uma criança enfadada de tanto brincar.
Jovens, aproveitem seus dias, não deixem que o vício destrua seus sonhos e não permitam que as “amizades” sejam mais importantes que sua família. O suor dos pais não é jorrado de uma fonte inesgotável, mas de um corpo que sofre pela idade e pelo sofrimento, e, sobretudo, não é em vão quando se tem em projeto a bela história de vida que é você. Aproveitem as que têm. Em sua missão com o saber procurem usufruir do trabalho com os ensinamentos dos pais e de Deus. Tudo passa. Um dia, estarão no lugar deles, e talvez esse futuro seja mais assustador do que o pensamento de sua existência diante de tantos desafios.
Quantos jovens não veem a vida passar porque se demoram demais em sono profundo. Não aprendem a lavar um copo e agora precisam injetar na alma a verdade que um dia ignoraram.
Quantos jovens não se reconhecem como verdadeiros senhores e senhoras de família e se abraçam e desfrutam do corpo como velhos conhecidos da vida, para se acomodarem diante de uma gravidez, arriscarem-se no mundo por um trago de bebida ou droga para alimentar o corpo maltratado e faminto. São milhares. Esta educação não é a do sonho de cada um. Os caminhos e atalhos têm seu destino certo, embora alguns cheguem primeiro.
Outros (jovens), mumificados pela arrogância não aprendem que o tempo sugeriu fases e transposições na vida, e continuam congelados em sua vaidade e idolatria. Adentram noites relacionando-se virtualmente, esquecendo-se que um corpo quentinho e vivo lhes requer e deseja um abraço e uma palavra de carinho e esperança, bem ao lado. A vida é cheia de mistérios, mas o homem é um predador de si mesmo.
Tudo na vida depende dos projetos que realizamos. Se optarmos por nos posicionar como meros expectadores ou plateia das coisas ilusórias, a vida passa como um filme no qual se consomem pipocas e fantasias. Todavia, se nos revestirmos dessa realidade de amor e fé, abrimos nosso coração, e decerto haverá sol em todas as janelas.

Miúcha

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Especial
   Miúcha

O nome da pequena cadela é opção de sua dona Jandira, minha mulher. Decerto não gostei, mas com o passar do tempo é como acostumar-se com todos os nomes e sobrenomes que pais desavisados recortam de livros e revistas e de transições da mídia direto para o registro. Mas estou falando de uma simples cachorra que não tem identidade, vocação e liberdade de expressão. É um ser vivo por complacência de Deus e das criaturas terrenas.

Pois bem. Há pouco mais de um mês Miúcha deu sinais, por seu comportamento, de que se preparava para o cio. Dunga, o hottweiler guardião do quintal, transitava inquieto e bravio. Sua paixão e desejos pela pequena não passariam disso. Seu tamanho é desconforme e incompatível comparado ao dela. Miúcha chega a ser erguida pelas mãos, de raça Dachshund, mais conhecida por Cofap ou Salsicha, de pelo de cor branco-alaranjado e de idade inferior a um ano.
Cansado ao extremo, dormindo não mais que quatro horas por dia, devido ao deslocamento que faço do Município de Plácido de Castro para a capital, Rio Branco/AC, percorrendo mais de 200km diários, chegando em casa por volta de meia-noite e meia, partindo para o trabalho às 6h30min da manhã todo quebrado pelo corpo, tolerância é zero diante da inevitável insônia que me ataca quando preciso de descanso e paz. Só Dunga e Miúcha não se deram conta desse meu calvário, e começaram a bagunçar. Ele, tentando atacá-la a seu modo; ela, defendendo-se num latido infernal.
A manhã dava sinais pela fresta da janela, e a cabeça tonta e dolorida das noites em claro. Foi quando tive a infeliz ideia de tomar uma decisão. Ou Dunga ou Miúcha. Evidentemente não titubeei e decidi pela segunda opção, que é bem mais econômica. Ela não tem cuidado em nada do quintal. Mas o curioso é que por mais que não tolerássemos seu comportamento, ora arredio e teimoso, ora dócil e meigo, quando eu chegava de madrugada era sempre Miúcha que vinha se humilhando aos meus pés, arrastando-se a lamber-me as mãos. Adorava entrar em casa e ia direto ao lixeiro à procura de uma novidade além do único cardápio de ração felina. Não apreciava mais a porção canina, mesmo pedigree.
Liguei o carro, abri o portão. Pedi para minha mulher envolvê-la num saco de modo que não sujasse com suas partes íntimas o assento do veículo, e de lá partimos rumo à Estrada AC 475, emudecidos, mesmo convictos. Já sabíamos do que se tratava. Numa certa distância, soltamo-la. Ela ainda deu impulso acelerado na direção do carro, mas foi impedida e regressou à procura de um lugar sem cobertor de seus novos amigos e primeiros amores.
Da mesma forma voltamos pra casa, calados. Jandira ainda deitou-se e chorou bastante, mesmo tendo sido dura ao ponto de apoiar-me. De forte tentei reanimá-la, mas daquele dia em diante, mesmo tendo retornado centenas de vezes ao lugar em que a abandonamos, não conseguimos ver a pequena Cofap teimosa.
Meus dias foram amargos. Talvez a insônia tenha-se acentuado em mim ante a preocupação e ato desumano para com aquele animalzinho que nos amava e era fiel de verdade como um verdadeiro amigo. Aliás, eu nunca vi prova de amor igual em toda minha vida. Nunca Miúcha rosnou ou fez cara feia pra nós, ao contrário de Dunga, sempre na dele e irredutível. O pior é que ela não sabia o motivo daquela volta pela madrugada, que não era um passeio. Dunga, mesmo assim, não parou de latir durante as madrugadas seguintes, deixando-me acordado e muito mais abatido. Eu não conseguia produzir, nem no trabalho nem na faculdade. Se fosse eu julgar meus resultados e produtividade, seriam como a cor vermelha deste texto.
Confessei para os colegas de trabalho o motivo que me levou a fazer aquela atrocidade com a pequena, e eles se compadeceram dela, evidentemente. Meus problemas devem ser resolvidos por mim, e não por impulsos e instintos, através de um tratamento apropriado.
Após alguns dias de monotonia sem Miúcha, onde o coração se torna professor e esclarece ao cérebro que consciência deve ser medida por ações, refleti na situação do mundo em que nos encontramos. Somos impulsionados pela ganância material. Não nos contentamos com o ensino médio porque o mercado é muito mais exigente, e também não nos contemos com nossos níveis superiores, porque a regra é superação, mesmo que o sonho não aconteça e a felicidade não venha, com simplicidade de um analfabeto. Nossas noites não são tão verdadeiras quanto nosso passado de frio sem cobertor, onde o calor humano era muito mais valorizado. Maltratamos o próximo, e próximo por mais indiretamente que sejam, são os animais que cuidamos. Eles não têm oportunidade de seguir o curso normal de sua vida, de optar por suas fases, de sentir dor de cabeça, de dentes. Não se expressam, e às vezes latem de fome e de dor sem que saibamos decifrar sua linguagem, a não ser pela mera convivência. Evidentemente, sei quando Dunga pede comida, pois ocorre sempre a partir das dezoito horas num latido perceptível e impaciente. Miúcha, ao contrário, não esboça seus desejos.
A pequena cadela quase morreu acometida por um mal estranho. Vivia babando e tremendo, nas últimas entre este mundo e o de seu chamado, e como não sabe o que se passa consigo, não poderia esperar um deus canino salvador e onipotente, salvo os abutres apressados por sua decomposição ao relento.
Nesses dias de monotonia e de reflexão, pus-me a pensar que meu mundo sem Miúcha não deveria mais ser o mesmo. Tantas separações nos deixam abandonados pelos próprios filhos que dispensamos amor, não pensamos que os animais, simplesmente os cães, mesmo apanhando ou abandonados, não deixam de nos amar perdidamente, de nos ser fiel aos restos que lhes jogamos, sem qualquer preparo e cuidado, na maioria das vezes, como se lhes estivéssemos fazendo favor.

Nesses dias de monotonia me toca o celular no horário da faculdade, curso de processo civil. Era Jandira dizendo que encontraram Miúcha num corre-corre pra cima e pra baixo junto a um único cão preto e grande, da cor de Dunga. Mas só encontraram Miúcha porque Flávio, um amigo e dono do pai da cadela a reconheceu, e esta só parou quando ele a chamou pelo nome. De tanto correr Flávio não conseguiu pegá-la, mas quando disse o nome da pequena, ela veio disparada aos braços dele. E agora, como não gostar dos nomes? Deve ter uma explicação para isso, aliás, uma lição, pois todos se acostumam. Esse menino herói é mesmo um salvador.
Agora, não há um dia triste. Ela passou a ter uma vida de rainha, tão pequena que mal cabe em caixas de papelão substituídas semanalmente diante dos rasgões que deixa, mas não mais fica no relento e não nos dá trabalho.
Estamos felizes. Ela ainda se humilha a rastejar a procura de nossos pés, para lamber. Está mais forte, mais bonita, e, sobretudo, mal acostumada pela vadiagem de alguns dias. Quando abro o portão, Miúcha sai em disparada com as orelhinhas ao vento, não se importando com os meus chamados. Entra nos quintais e deles sai, enlameada. Pegamo-la, banhamo-la e devolvemos à sua caixa, e nesse lar doce lar vivemos unidos para, somente com a vontade de Deus, nos separar.
E como não cantar minha doce canção sem o amor desta pequena?

“Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver

O mundo anda tão complicado

Que hoje eu quero fazer tudo por você”.

Pai desvalorizado

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Família
Pai desvalorizado    

Desde a separação, parece-me que perdi a noção dos hábitos e costumes da vida, daquilo que é uma família nos dias de hoje e de todo o sentimento natural que dela poderia provir e brotar. Infelizmente, na atualidade, ser pai ou mãe é ser um financiador de gastos dos filhos. E, o que é pior, sem resgate de dignidade ou afeto até mesmo por empréstimo.
Falo de coração. O sentimento puro não é mais o mesmo que o de antigamente. Tudo muda neste mundo enlouquecido e extremamente consumista. Até o amor perdeu o sentido essencial. Ama-se da boca pra fora. Ama-se por dinheiro. Carinho é disfarce que antecede um desejo quase sempre caro, muito caro.
Meu pai nunca foi um homem abastado, tampouco mediano. Estacionou numa pobreza limítrofe entre o ego dos que têm e à miséria disfarçada dos que nada podem dispor ou fazer. Andava alinhado e de branco. Caderneta no bolso. Costumava anotar em letras trêmulas de quem consome desenfreadamente o álcool, nomes, telefones e endereços de pessoas que transitavam a ermo, próximas, desconhecidas. Ainda não entendi o porquê. Meu querido pai jamais possuiu um telefone, sequer uma linha fixa. Nunca nos deu um lápis, mas, sobretudo, herdamos uma lição para o resto dos nossos dias. Ainda é no lar que se aprendem as melhores lições de vida. Nosso amor não diminuiu por ele não dispor daquilo que não podia dar. Nossa santa mãe nos auxiliou com sua bondade, inteligência e carinho. Andava muitos quilômetros em busca de uma escola, e era geralmente nessas escolas onde matávamos a fome, salvando a hora do lanche.
Bem, mas o tema é outro, e se infiltra em pensamentos atordoados para poder crescer sem disfarce.
Os filhos, crescidos, arquitetam o corpo. Pintam-no com cores esquisitas; arranjam cabelos, modificam os que têm, colorem o natural; trajam-se daquilo que vêem na tv, comem da mesma guloseima deste ou daquele artista, e já não se fala em família, tampouco sobre amor, não aquele fazer amor, que é natural. Muitos simplesmente desconhecem a fonte ou a origem do suor de seus pais. Sanguessuga é pouco numa relação contratual entre parasitas e um mero provedor unilateral, escravizado até o fim.
Hoje mesmo um de meus filhos pediu um violão, o outro uma bicicleta e o terceiro, um computador. Todos ganham pensões que se não suficientes, podem adquirir, parcelada e honestamente, os bens de que tanto amam, a exemplo do violão, do computador, da bike etc.
Sinto-me um pai à beira de um abismo, economicamente afundado, pois do mínimo que investi não consegui o resultado a que almejei. Estudo porque não vejo outra solução e pela incerteza do mesmo comprometimento dos meus. Se paro, vem-me um rolo compressor a esmagar-me os ossos. Meus livros são caros e por isso vivo pedindo emprestado dos colegas para conseguir alguma cópia, e pechincho cada centavo, cada página de leitura cada vez mais difícil. Como o crime não compensa e ninguém nasce com uma vocação profissional definida, prefiro ser honesto e tentar a sorte por essa via, para contemplar a trajetória e conquistas dos meus filhos.
Bem, se eu fosse um banco, uma agência dessas que diariamente sinaliza falência, pelos assaltos, pelos lucros roubados, eu trataria de buscar outro ramo de vida. Mas a idade não permite malabarismos, e como a água que flui jamais será a mesma, assim precisamos seguir e viver cada momento. E se Deus nos dá o frio conforme o cobertor confesso que o meu ainda permite muita ventilação. Felizes os filhos que amam seus pais e compreendem que o dinheiro não é tudo, e por isso nem todos detêm condições favoráveis à sua aquisição. O valor de um pai não está no dinheiro, mas no coração.

Pai: Defeito de fabricação

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Especial

Pai: Defeito de fabricação

Falar de pai é muito fácil, principalmente quando se lhe apontam defeitos. Aliás, falar dos erros dos pais é como atirar a primeira pedra com todos os pecados, porque há um esquecimento geral dos cometidos por terceiros na hora da inquisição.
Minha tarefa de pai não consiste apenas na reprodução, ou nos cuidados compartilhados com a mãezinha querida. Vai mais além. Não tenho como recordar dos momentos que me antecederam os primeiros passos, tampouco os olhares e cuidados que me acobertaram o sono de criança, mas alguém me disse em alto e bom som que precisei de ajuda. Alguém chorou comigo ou talvez por mim, pela minha dor, pelo estômago vazio e faminto; alguém pagou por isso, e me auxiliou quando precisei respirar, quando me entalei, quando me lambuzei. Alguém secou-me as lágrimas, carregou-me no colo, ensinou-me as primeiras palavras, alguém, figura de pai ou de mãe, numa verdadeira batalha em prol da minha sobrevivência. Eu não me recordo mesmo de nada, mas tenho convicção que um dia, como todas as crianças, fui amparado e salvo, e estou aqui, vendo o tempo passar.
Por sinal, o tempo tem passado tão rápido que me vejo filho crescido e pai. Decerto, o bom pai já não é mais aquele de antigamente. Deve ser mais completo hoje em dia, um top de linha. Embora venha mesmo equipado, ainda assim faltará algo para os olhos exigentes dos filhos e deboches da juventude. E nesse avanço tecnológico os pais vão ficando para trás, e não podem correr ante o reumatismo, o disparo do coração, a miopia, as veias lentas, as dores, o cansaço, o suor, a aposentadoria, a velhice chegando e dizendo que o podium já não lhe pertence. Tem que se acostumar a ser o último para tudo, para depois do almoço almoçar, para depois da diversão, dormir, para depois do amor, chorar.
Não se precisa de muito para saber o que se passa hoje na cabeça de muitos filhos. A grande maioria quer ver o pai, mas longe ou pelas costas, por vergonha, pela simplicidade que ele tem no vestir, pelo bom perfume que não usa, pela moda que já não lhe cabe, pela chatice de andar devagar ao lado de um bom velhinho a passos lentos. Ser pai após a maturidade é saber envelhecer num campo de concentração na própria moradia, onde se lhe editam regras, onde se tomam medicamentos contra a vontade, num regresso à infância perdida, bem pertinho dos quartos dos filhos, dos carros que nunca teve o prazer de andar, nos programas de televisão que não compreende, nos jogos que não tem mais graça, na música que não toca mais a mensagem pura e simples.
Ser pai hoje em dia é ter o prazer de edificar uma vida, mas é ao mesmo tempo se encher de incerteza quando da criação e crescimento de um filho. Tem filhos que cobram para obedecer e para comprar um presente para o pai. Ele paga para ganhar. Poucos não conseguem um tempo para seus idosos. Estão sempre apressados, ocupados, procurando qualificação, qualidade de vida, numa concorrência desumana neste mundo ingrato, onde se vale pelo que tem. Não se pensa e nem se leva a sério a saúde. E como o pai aos poucos perde o suor e o sangue, vai ficando esquecido nalgum quarto escuro, numa casa vazia no fundo de um quintal, cuidando de galinhas ou de plantas, ou num asilo, pois é bom que não comprometa e não os encha de vergonha. Quem tem saber, necessita de provas e títulos, para ser um mestre, um doutor, PHD, menos um ser humanos simples que tem pai e mãe, servindo de babá para por mingau na boca de bebês septuagenários e senis. A palavra pai é tão cheia de incertezas e de falsidade hoje em dia, que o amor vem recheado de dor e revolta.
Não sabemos o que nos acontecerá a poucos segundos ou minutos de nossas vidas, se nossos filhos vão nos tratar da mesma maneira que muitos tratam seus pais, ou se algum anjo nos resgate aos braços de Quem nos ama verdadeiramente, mas não devemos adiar para depois o que podemos fazer agora mesmo com os nossos velhinhos: amá-los de verdade aqui na terra. Nossa criação e nossos filhos estão mudados, e a vida tem mostrado os caminhos que trilhamos, e quiçá envelheçamos com a dignidade de um herói, sem as dores do desprezo e da falsidade que maltratam o coração e a alma de um pai, mesmo estando rodeado de filhos queridos, que foram carregados nos braços, que foram amados, beijados e tratados como doces criaturas. Bom seria se lhes fosse feito o mesmo.

Doce mãe

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Amor
Doce mãe


Preciso dizer que te amo
Mas um eu te amo verdadeiro
Como se fosse o primeiro
Desses de feto e placenta, de útero e sangue, ligados ao coração

Sem fantasias
Ou adornos de teu Dia

De repente me parece que tu não cansaste da caminhada
Quando o teu sustento é prazer e dor
Educando-me com simplicidade de quem não foi à escola
Preparando-me a mesa que não foi posta pra ti
A cama, com a qual não sonhaste em dormir

A educação
Numa lição de vida
Jamais esquecida

Ah, minha mãe querida, esse tempo é tão cruel
Às vezes nos encontramos sonhando e correndo
E finalmente nos despedimos a contra-gosto e sofrendo
Quando nossa mãe vai para o céu

Sabe, mãe
Tenho que aproveitar este momento
Sou um filho que aprendeu a amar de verdade
Pois os pingos de orvalho da tua mocidade
Lavaram-me as inquietações no jardim de tuas flores

E percebo que elas, expirando com a luz do sol
Não perderam o brilho e o perfume em cada estação
No firme propósito de distribuir beleza e mel a tantas coisas amargas
Que se tornaram doces, tocadas por tua expressão

Mensagens virtuais

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Especial
Mensagens virtuais

Poetas, pensadores, amadores da vida

Gente que valoriza o poder da mente e do coração
Imbuída de motivação, decepção, paixão e alegria

Sonho vivo em espirais

Mensagens virtuais

As idéias nunca morrem

A inspiração sempre dá um tempo, mas não rouba o talento

Às vezes se torna tímida por nudez de conteúdo
E se veste num sobretudo que lhe aquece a alma nos fatos da vida real

Mensagens virtuais

Pureza multicolorida
Com precisão de arco-íris
Certeza de que sempre haverá conteúdo para cada momento
Sobre as chuvas, sobre as tempestades que se manifestam em cada ser
O amor é publicado
A fala é dita ao mundo
O grito ecoa de verdade
E assim, por se querer mais

Mensagens virtuais

Trazem-me companhia nas noites frias
Luz para o mover da sombra que me acompanha os passos

O custo é o pensamento

Que brota cá dentro

Num vôo de espaço real
Onde a alma é sempre nova

E as palavras transbordam a vida num sinônimo de paz

Mensagens virtuais

A galinha e os pintos

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Natureza

A galinha e os pintos



De repente eu me encontrava ali, numa fazenda às margens da AC 475, após longo percurso de bicicleta, final de Setembro do ano em curso (2007), contemplando  a paisagem, remontando meu passado de orvalho, quando, com privilégio, acordava com o cantar dos passarinhos, galopes de cavalos, de cheiro de mato, de ‘baladeira’ (estilingue) nas mãos, olhando para asas agitadas que se multiplicavam em refúgio das balas de barro que eu fabricava, imbuído de espírito caçador; animais pastando, outros bicando, procurando alimento ao chão, comendo nas mãos, arrastando-se, clamando sobrevivência num cenário quase bucólico entre os que pensam e os que não têm razão.


Muitos costumes ainda são mantidos ali e em quase todo lugar: tortura contra animais, num cenário preparado pelo predador.  


Aguardávamos, ansiosos, o almoço feito em fogão de lenha, de galinha cheirosa, longe de suas espécies congeladas em frigoríficos, multiplicadas em peso e medida hormonais; de feijão de caldo grosso, temperado a gosto com alho e sal; porquinho assado na grelha apoiada em tijolos, enfim, uma combinação de prazer no tempo e no espaço da zona rural.


O caseiro, irmão de meu amigo, ouvindo constantes inquietações de uma galinha que se recusava aceitar os pintos enjeitados, levanta-se e dirige-se ao galinheiro, pega-a e risca com força seu bico num vai e vem sobre a tela de proteção, soltando-a, logo após. Desajeitada, aflita, ensangüentada, quase morta de dor, já não finge achar comida para chamar os filhos para perto de si, porque não pode bicar para lhe parecer mais real; tenta pular num gesto que está bem, que sobreviveu por aquele instante, para não assustá-los mais; quer aconchegar-se, chamá-los para debaixo de suas asas, mas eu sabia a dor que a dilacerava, pois cada movimento era palavra triste daquele coraçãozinho de tamanha ação. Queria ir para um poleiro, temendo o opressor; até arriscava um salto, mas ao mesmo instante retornava ao chão para proteger os pequenos.


Olho para outras de bicos tortos que insistem em comer direito, e já não pergunto o porquê, eis que a resposta é ríspida àquela cena, quando o caseiro ressalta que fazia aquilo para ela aceitar os pintos que não eram seus. Não sei quanto tempo durou, se a penosa e dolorida sobreviveu ou aceitou os que não lhe pertenciam, se foi para a panela mais cedo, mas sobretudo me restou um episódio, uma lição que deixo para todos nós, uma realidade extraída de fábula. O homem continua sendo, com toda sua instrução, o ser difícil e intrigante que habita o planeta, mórbido de mazelas da alma e do coração, cruel para consigo mesmo e para os animais que cria. 

Mas em sendo a vida composta de tantos de repentes, de repente abro a Constituição Humana manchada de impurezas pedindo proteção, num país cada vez mais injusto e insistente, cheio de regras e de pouco cumprimento à lei esquecida no tempo de outras civilizações, vejo inúmeros pintinhos enjeitados, mutilados, esquecidos, sem asas que acobertem seus temores. Já não têm sua mãe, que cresceu para virar alimento. E assim deve caminhar a vida, mais interessante do que fábulas, do que a realidade que se veste de vaidade e egoísmo, como pintinhos superlotados em caixas de papelão. E pintinhos de verdade sentem falta de quem os protege, antes de tornarem-se protetores, como as galinhas de bicos quebrados. 


Não culpe a Deus

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Religiosa

Não culpe a Deus




Se algo não tem dado certo em sua vida, não culpe a Deus


Se certas coisas não caem do céu como resposta, Ele não é culpado também




Quem enviou Seu Filho, para, na terra, levar a palavra santa, não se preocupa com coisas materiais que o homem teme perder mais que a fé


Esse mesmo ser tem esperado mais por milagres dos santos fabricados por suas mãos 


Do que do filho de um Deus vivo que se encontra de braços abertos


 


Só quem ama de verdade morreria por cada um de nós


Porque sempre esteve convicto de que a vitória é a salvação, a qualquer custo para tirar o sofrimento que invade a vida aflita


 


Não existe nada que o homem tenha vivido e sentido na pele sem que esteja presente e justificado nas palavras ditas  há séculos e séculos


E por mais que o ser humano tente não acreditar, por sua descrença


O mundo vai perdendo a força para que possa mostrar


Sua dor através da natureza


Porque a espécie mais temida entre todos os seres vivos ainda continua sendo o homem


Que polui, que mata, que inventa e não aceita no coração essa palavrinha pequena, remédio de salvação contra o ceticismo: F-É




Não atribua culpa a Deus por tanto sofrimento


Quem é culpado por esse mundo injusto é seu próprio inquilino


O dono a tudo assiste e virá buscar prestação de contas



Quantas vezes por dia você parou para agradecer a Deus


Antes de reclamar da vida ou dos problemas dela advindos?


Deus não será culpado das coisas que compactuas com o inimigo



Não O ignores



 


Nada poderá cair do céu, mas sua palavra de fé será mais veloz que o som para chegar ao Pai, sem escala, sem ônibus espacial



 


Quantas vezes você disse amar a Deus e o traiu com o inimigo?



Porém, se acredito que mortos daqui fazem milagres


Sou oleiro que faz santos para adorar



 


Brincar de ser cristão é coisa séria aos olhos de Deus



Ser cristão de verdade é renunciar as coisas do mal


Não é ser bonzinho apenas no templo, que te olha diferente pelas vestes ou recursos que tens


E nas esquinas da vida o ignoras e comete mil pecados



Não


 


Quem tem Deus no coração sabe o lugar exato, não é seletivo


Continua levando o amor entre todos os povos


Com olhos de perdão


Para ser feliz e realizado de verdade



 


Agora, se prefiro minha fé após os compromissos deste mundo


Depois que ferir ao próximo, sou culpado


Estarei escrevendo mais um capítulo de uma vida que não terei



Certamente estarei pensando que milagres só acontecem comigo


Quando vir subirem aqueles que ignorei e ficar esperando que Deus me estenda às mãos ou me leve nos braços




Não, como culpado ficarei, porque não cri


Não justifiquei minhas ações, não fiz por merecer


E minha companhia certamente será uma triste família que constituí


 


Obrigado, meu Deus

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Religiosa

 Obrigado, meu Deus



Obrigado, meu Deus, por mais um dia de vida


Sei que muitas coisas deveriam ser somadas nesta ocasião


Mas passamos a maior parte do tempo catando pedrinhas no caminho


Esquecendo que a passagem é árdua, mas Alguém já por ela trilhou para seguirmos adiante


Aquilo que julgamos ser sofrimento, incomparável ou insolúvel


Não chega nem perto do que Ele passou, para nos salvar


Somos abençoados, cometemos os mesmos pecados


E vivemos sempre pedindo perdão


Essa tal incompatibilidade

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Rompimento

Essa tal incompatibilidade


  


O velho calendário, mesmo desbotado


Ainda não conseguiu apagar a data mais importante da vida de quem arrumou as malas: o dia que conheceu o seu grande amor


Namoraram, casaram e se tornaram um


Com objetivos claros na defesa dos sentimentos herdados de seus corações


Vestidos como cavaleiros medievais


Num momento único


E depois vieram mais dias tomados de planos de uma vida próspera, de casa cheia de filhos, sonhos e obrigações  


Passado um bom tempo, quando tudo parecia normal, veio a notícia de um eu não te amo mais


Um, dizendo que não percebeu que o tempo passou, que se sentia infeliz



O outro, retrucando ao dizer que sentia muito a tudo que de ruim causou



Isso sob ouvidos e olhares de quem continuava com o mesmo amor



Brigaram mais que apanharam dos erros



Esqueceram dos filhos e de sua educação



Dos compromissos de altar



Do trabalho, da vida em comum


 




Veio rotina de céu cinzento



Chuva de tristeza que esfria a alma e o coração 



O chão já não é mais o mesmo



Cores faltam no arco-íris



Perfume, na flor do jardim



A flor que seria para ela



E murchou quando tocada pelo ácido fatal do desamor



Tudo já não é bom como antigamente



A casa não tem mais a mesma pintura



As paredes já não captam sussurros



Nem a voz do coração


 




As portas mantêm-se fechadas



Esperando um adeus, agora com passos tristes e lentos em sua direção



Daquele que vai partir para nunca mais voltar



Talvez para um novo altar



Sem medo da solidão.


Estrelato

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Reflexão

Estrelato


 


                       


Quero dias de glória, sucessivos dias de fama


Quero cantar e receber disco de ouro


Quero correr rumo ao podium feito só para mim



Marcar gol de placa com a camisa 10


Vencer de qualquer maneira


Para que me carreguem nos braços e gritem o meu nome


Quero então acelerar forte e ser o primeiro a empunhar minha bandeira 


Beber champanhe e derramá-la em meu rosto


Saciar minha sede de glória nesse instante


Quero ouro, diamantes, jóias e grifes modernas


Ser artista de cinema


Quero um palco com luzes, câmeras e minha ação


Quero autografar meu nome em seus papéis, camisas e mãos



Quero ser deputado, senador e presidente


Quero que clamem o meu nome, que votem em mim


Eu prometo alcançar mais e mais o status social que me faz temente


Quero o estrelato e viver feliz




Então, quando tudo conquistar


E mesmo assim me sentir vazio


O que mais posso intentar?


Vou querer um amor, um amigo, uma família de verdade


Paz e tempo também para mim


Sem artificialidade


Ser mais humano, mais presente


Fincar meus pés no chão, longe dos pedestais


Sorrir, cantar, beijar e abraçar os humildes 


Derramar suor, repartir o pão


Verei que o tempo passou


E que alguém ainda torce por mim, mesmo com dor


Como aquele Homem na cruz, dilacerado pelos meus pecados, vendo meu estrelato de fantasia


Distante de Suas ações


Como quem diz que o verdadeiro adorador não precisa de ídolos


Se, mesmo com a fama não consegui emudecer as vozes dos que me chamam de amigo, filho e irmão


Como poderei ser útil à minha família, sem coração?



Não mais duvido



Ele não precisou de tanto para receber elogios e aplausos do Pai


Alguém que fez milagres e não quis publicações


Foi eliminado pela ganância e inveja do homem, por ser simples e diferente





Aposto que se ele voltasse agora


E novo adorador me tornasse


Muitos deixariam de seguir-nos para aplaudir outros artistas do mundo


Sem se dar conta de que poderiam dormir amedrontados


Até o último capítulo da vida de sofrimento eterno, como tudo que acontece de repente


Sem alcançar ao menos o manto daquele que, lá de cima, sempre esteve tão perto da gente.


 

Pai em causa própria

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Pessoa
  Pai em causa própria        



 Por estas horas, no começar da madrugada, quando nasce este texto entre o café e a insônia, meus filhos nasceram chorosos, assustados, segurados pelos pés. Tinham medo de algo aqui na terra, todos de cabeça para baixo. Chegavam desajeitados, cansados do interior materno, da nave mãe, e preferiram checar o que hoje chamam família. Desejei-lhes as boas-vindas. Vocês conhecem a palavra p-a-i?


Bem, é assim que me chamam, e ser esse pai que se espera depende das circunstâncias. Pode ser chamado de meu amor num segundo e odiado por toda a vida. Quando erra é burro, analfabeto, idiota, desocupado, bandido; se lhe falta estudo, é banhado por uma enxurrada de pejorativos. Porém, com dinheiro no bolso, a amnésia toma conta de muitos que os rodeiam, e passa a ser chamado de exemplar, querido, trabalhador, lindo, maravilhoso, assim bajulado, entendem? Se o dinheiro lhe falta, continuará bóia-fria, sonhador, zé-ninguém, flagelado, mendigo, miserável. Até receberá tapinha nas costas, incentivos, compreensão, mas tudo tem prazo determinado, tolerância, limites.   


Eis-me aqui, no mundo que lhes abre os braços, de tão globalizado e moderno que exporta pais refugiados, assassinos, cabisbaixos, suicidas, terroristas, políticos, injustos, aflitos, desencorajados, drogados, prostituídos, famintos, trabalhadores, honestos, isso mesmo, ainda têm pais assim. 


                  Não esperem seguir o caminho no qual me aventurei, porque vocês foram feitos para trilhar os que lhes preparei, previamente percorridos, calculados, descalço, para sentir os espinhos, tatear aos abismos e armadilhas, bem sei, mas também um paraíso que compete a cada um construir e modificar. Isso mesmo, esse paraíso é feito com sacrifício. Ser pai é um dom, e não espero que me apontem apenas defeitos diante dos reflexos de suas ações. 


Não espero que me cobrem além do que posso lhes dar, só porque tive alguns tropeços nessa caminhada, no auge dos grandes momentos da minha vida quando os vi nascer chorando sem saber por quê. Eu chorei de alegria, confesso, embora em alguns obstáculos eu não tenha conseguido superar, levando-me a separações e prantos que também derramei, de tristeza. Mas se estivéssemos juntos teríamos dificuldades também, ou seja, se um dia chegarem ao podium dos pais, deverão ter alguns pensamentos a respeito, antes de ser avós.    


Sou um pai que esqueceu de viver para proporcionar aos meus a vida que não tive, os sabores que não degustei, as roupas que não vesti, os sapatos que não calcei, os sonhos que não alimentei, pelos compromissos da infância e da juventude, estendidos no amadurecimento que se cansa, nesse tempo que não perdoa, do qual se tira pão de pedra, suor de lágrimas derramadas e não se pede clemência a Deus, para ser honesto, compromissado com o futuro, com a educação e a alegria. Minha infância não gerou inflação. Para ser sincero, nunca vi um lápis cedido pelo avô de vocês, para me dar alegria, condições de estudo, mas estou aqui, participando de seus exercícios, querendo saber como estão nos estudos, na vida, nos sentimentos, e espero que modifiquem essa situação com meus netos, porque não deixei de amar meus pais, tampouco de ser um filho obediente.   


                 Ser pai não é assim tão fácil, desses que nascem a cada dia, sem compromisso, sem pensar, de instinto animal, pois nem sempre se mergulha em lençóis diante da maciez de um corpo lindo e quente e faz o amor que lhes traz à luz da vida. Ninguém sabe a dor de um pai, o vazio na alma nesta vida ingrata, de interromper o sono pela madrugada, buscar alimento, pedir ajuda para o filho doente que chora, porque não pediu para nascer, checar a geladeira, supri-la, trabalhar e encarar carranquices do chefe, calcular imposto de renda, gratificação natalina, férias, não para viajar ou aproveitar a vida, como dizem, mas para pagar todas as contas dos gastos com sua criação, que se avolumam cada vez mais, tornando-me escravo desse sistema, e isso não é lazer, como o fazem em seu cotidiano descomprometido. Até peço a bênção de vocês para suportar, voltar à noite, exausto, amar, sorrir, planejar, sonhar com dias melhores, com aumento de salário, e ter a garantia que sou um pai. Sei que a vida não é apenas isso, deve existir uma razão maior para se ter alegria e paz, sem esses recursos que o homem criou.


Então, que venham as compensações. Todo relacionamento a dois deveria prosperar com a mesma saúde do primeiro encontro, do primeiro beijo, com a mesma ousadia de um namoro arriscado, que termina no altar com doces confissões de somente a morte separar aqueles que se unem. Como não existe uma vacina contra o pecado ao doente que recusa um tratamento com Deus, ele se dissemina de tal forma que a sensação é de pleno vigor, de alegria e de constante transformação. Essa doença se espalha, e faz o mal chegar em casa primeiro que o morador, então vasculha as dependências, necessidades e se especializa em formar jovens casais doentes e desestimulados. Mas acreditem, lutem, procurem seu verdadeiro valor, uma pessoa certa em sua vida, para formar sua família.  


Uma sociedade moderna não se mantém presa a tabus ou conceitos retrógrados, pois se o dever de casa já foi experimentado pelos pais, cabe aos filhos uma solução mais emergente. Chamam simplesmente ficar, dar um tempo, sair, e desconhecem a caretice de um namoro linear, se a doce sensação do pecado, quer seja com o namorado da melhor amiga, ou da mulher do irmão é mais atraente e emocionante.


Desde a juventude vim pedindo a Deus uma mulher que me amasse, que me correspondesse, que me fosse carinhosa, dessas cheias de loucura, para eu compreender que, embora tendo essa pessoa ao meu lado, devo também gostar mais de mim, assinalando todos os quadrinhos vazios das minhas interrogações, agora com idéias maduras para não cometer os mesmos erros e saber valorizar e aceitar as pessoas como elas são. Um pouco de experiência aqui, cabeçadas ali, e aos poucos vamo-nos permitindo, de  corpo e a alma às mudanças que não acontecem quando apenas um quer, mas quando os dois se tornam um.  


Bem, falar de pai não é mesmo fácil, mas acreditem, apesar de todos os defeitos e qualidades, todo pai é um sujeito que se orgulha, que batalha, que planta sementes pela vida afora na esperança de que todos os choros sejam sempre a mesma alegria da sensação de um filho no colo.  

      



 



 



Contradições

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Vida

Contradições


Não espere



Pelo brilho do sol para entusiasmar com o calor que é seu

Ser o melhor, se não usar da sensibilidade para compreender a situação do próximo

Ser um poço de bondade e compreensão, se tanto desprezas e ignoras

Que seu espírito beneficente conforte todos os corações

Por doces momentos na vida com peso na consciência

Receber um eu te amo sem estar disposto a perdoar e amar  

Pelo melhor salário ao passear nos jardins da vida, com livros fechados e mente desocupada

Tentar um pedido de desculpa quando a mágoa passar

Que a vida a dois seja repleta de poesia, se faltar prosa na convivência que se cala  

Ser um presente de papel bonito, se teu conteúdo é pobre de doces recordações    


 

Porque


Não importam os projetos do mundo

Tampouco as ‘maravilhas’ que criaste das mãos

A obra que Deus criou é a mais perfeita e imensurável

Dotada de voz e razão

Que pede, busca e encontra

Quando faz com o coração

Você nasceu para ser amado

Resistente às tentações com a fé que não se abala

Confiante, não se mantém na retaguarda

É guerreiro, e como guerreiro não se cala  



 Somos tripulação dos barcos que construímos

Desconhecemos as forças dos ventos que nos levará

Construímos impérios que se soterrarão com simples sopros de criança



Talvez a data mais importante seja a que você deixou de agradecer, de elogiar, de se desculpar, de aproveitar o tempo, de reclamar por um dia, de falar mal de alguém, de esquecer a inveja, o orgulho e a teimosia


 


Alegria



A vida é cheia de surpresas

De contradições

Para podermos sentir, planejar, inovar, respeitar

Conjugar, sempre, o verbo viver

Com lições novas a todo instante

Para poder crescer





 






 






 






 






 






 






 







Super-mãe

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Especial

Super-mãe


 


Falar de mãe é deixar o coração falar por si só, pois é sabido que necessitamos desabafar quando sofremos por qualquer motivo, e que soltar a voz da razão é válido para compreender a existência da vida, o valor que ela tem. Uma mãe nada mais faz do que ouvir a voz de Deus e transformá-la em música suave.  


Não é difícil compreender por que o mundo tem procurado flores nos jardins que a mãe plantou, com espinhos de plástico, para o filho não se machucar, porque esse é um capricho natural.


Quando muitos precisam de suas mães, numa escala de zero ao infinito, percebem o quanto são pequenos, que não preenchem sequer a mais simples lacuna de filhos exemplares. Querem aprontar, achar que a vida é uma eternidade, que tudo pode ser adiado e recomeçado a qualquer momento, sem pressa, sem amor, sem sentimento. Entendem que dinheiro é coisa para os pais conseguirem, que tudo lhes vêm às mãos sem suor, sem dificuldades.


Toda mãe é monitorada diariamente, começando pelas exigências dos filhos e dos maridos, quase sempre vazias de agradecimentos, de carinho e afeto, de beijos e abraços. Muitas mães são escravizadas no lar do doce lar, chamado família. Percebe-se que se a mãe atingisse 99% de perfeição para a aceitação dos filhos, seria, bem assim, incompleta. Acontece que a maioria deixa de se dar conta de que é o ínfimo percentual que sobrou, de pura arrogância, ganância material, vício e contaminação hereditária.


Não raras vezes se estende a mão direita e se pede a bênção aos pais, e embora ainda aconteça, é uma regra que se supera e já é tomada por  coisa do passado, mas muitos filhos ainda não reconhecem que uma mãe não precisa de muito, que é feliz por ser notada, abraçada, beijada todos os dias, talvez nem percebam que esse ser humano é mesmo gente de verdade, que tem sensibilidade, coração, sangue nas veias, que não é uma máquina programada por um chip. Quantos beijos e abraços são dados mais efusivamente a terceiros, talvez nem amantes, nem parentes, nem alguém em especial, enquanto a face de uma mãe permanece do mesmo jeito, rosada pelo sofrimento, pela dor que não esconde uma maquiagem.


Mesmo se todos os esforços se concentrassem, aliados ao trabalho de uma vida inteira para indenizar o carinho, o sofrimento e a dor de uma mãe para criar um filho, não seriam suficientes. Todos sabem que a melhor maneira é seguir o caminho e as regras dessa mulher.


Sabe-se que enquanto um filho está na balada uma mãe está na calçada, num vai-e-vem casa adentro, aflita, com suas orações pela integridade dele. Mas quão difícil é dizer ao filho tudo isso sem receber ‘coices’ e xingamentos, berros, chantagens muito mais?  


Não haverá conquistas sem intercessão de uma mãe na vida de qualquer pessoa, do presidente ao mendigo deste país. Quantos filhos, diariamente, recebem “canudos” da suada licenciatura do mundo civilizado, do mestrado das indiferenças, descrenças do real e doutorados que a vida jamais ensinará, sem acionarem um flashback capaz de lhes mostrar a professora de vida que ficou para trás, quando vestidos de calções e sandálias, maltrapilhos, com saias pequenas, simples, caderninhos de brochura nas mãos, enfileirados, cantavam o hino nacional, comiam tudo o que lhes aparecia na frente, e agradecem mais a terceiros do que a suas mães? Milhares.


Somos exímios articuladores das coisas ilusórias, das cobranças maternas. Quantos filhos querem guarda-roupas atualizados, presentes nos dias de aniversário, andar perfumados, os filhos da hora que acompanha o capitalismo, da contemplação fashion week, ser lembrados no Natal antes de todos, dar sua lista negra ao pobre papai noel. Falhamos. Mães são feitas de amor, como a mãe que nutriu Jesus, que morreu na cruz, e não satisfez ao pecador, que continua incrédulo, ingrato, como muitos filhos, até o arrependimento chegar, sem chances de um recomeço, o recomeço que toda mãe pode dar junto à família que tem.


Parabéns aos filhos heróis sobreviventes, cumpridores de seu papel de obediência, gratidão e reconhecimento à mãe, pois viver sem ela é viver sem harmonia com a vida, sem o coração que canta a música suave de Deus.


 



Mãe é mãe

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Pessoa
Mãe é mãe


Toda mãe se transforma, como flor que desabrocha


Para ser luz de compreensão, reconhecimento, satisfação


Bênçãos, então...


Para receber os pingos da chuva, os raios do sol


Dar à luz, amor, repartir o pão


Conhecer os quatro cantos da casa


Os passos que o filho dá


Os remédios de que necessita


O mal que evita, aflita, em busca de oração


Os itens do supermercado


Os cálculos aquém da matemática pura e simples


Os cálculos da economia familiar que o doutorado não dá


 


Mães são múltiplas


Como a minha, que se dizia lançadeira


E eu, abobalhado e infantil, pedia e gritava


Achava que as coisas apareciam num piscar de olhos


Achava que os cadernos e lápis de cor estavam sempre novos e cheirosos


Que apareciam como mágica, do nada


Assim como a comidinha simples


Que apreciava sem reclamar


Afinal, era a que tinha


Queria bolsa, conguinhas azuis


Ora, que bolas


Minha mãe se desdobrava, e cansava


Para não deixar faltar-me pão


Quanta ingratidão


Quanto aborrecimento de minha parte


Na doce arte da incompreensão


Porque aquele coração era feliz com o filho que tinha


Quanta ignorância e arrogância


Do filho que queria marcas e moda quando crescia


Do filho que não compreendia a dor


Só a dor que se passa consigo


Só os passos que dá


Só quando perde uma mãe


A mãe que devia amar.


Platéia de Deus

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Religiosa

Platéia de Deus


Senhor


Que na minha condição de integrante deste cenário que se chama mundo


Eu possa compreender que os verdadeiros protagonistas estão além dos palcos da vida


Além das platéias e teatros que o homem inventa


Além dos aplausos que satisfazem egos e ilusões


Porque o verdadeiro ator é aquele que leva a Tua mensagem aos filhos de Deus


Platéia de luz e de vida


Que terá sempre a chama viva para aquecer o frio


E uma palavra que encanta aos céus e os aplausos de Deus


 


Quem é tomado pelo bem não se comporta como mero figurante ou homem infeliz


Que aparece sem levantar a voz


Visto como sombra solitária


Porque existe um cenário maior, preparado por Deus


Onde o amor é medida exata para cada um dos seus


 


Na condição de mero espectador do mundo aflito


O que posso fazer é clamar a Ti, Senhor!


Pois não é difícil compreender para onde ruma essa gente


Quando gritos denunciam horrores e choros o sofrer da alma


 


É chegada a hora


O tempo, em sua caduquice tem dito


O homem tem permitido o seu fim


A natureza não tem tido condições de suportar suas crias


E muitos jardins não mereceram o Éden prometido


Pode ser agora


Amanhã ou daqui a pouco


Pouco importa se as luzes se apagarem


Quando muitos se abraçarem


Sedentos de Ti, ó Pai


 


E as trevas serão iluminadas com tochas ardentes


Para que todos possam ver a morada do inimigo


Para que todos possam ver seus moradores


E o brilho do Senhor refletirá em todos os corações que não se deixaram abater  


E assim, quando o dia amanhecer e o Mestre se aproximar


Estender os braços a ti


Não se contenha, solte a voz, o grito no teatro da vida eterna


Porque muitos amigos irão partir


É chegada a hora


Da platéia que ficar aplaudir e chorar


Aplausos de júbilo e louvor, de amor a Ti, Senhor

O beneficiário

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Religiosa

                  O beneficiário




               Era um homem comum entre muitos do bairro, sonhador como tantos de encontrar a mulher prometida e com ela compartilhar a vida de um casal feliz, pois ao longo do tempo viveu em profunda solidão, e por isso não obtivera lição para escolher e decidir com sabedoria, dizia seu Chico no velório, porque tinha procurado a felicidade escalando montanha com fardo de pedras nas costas.


               Falava de Antonio, conterrâneo e amigo de 80 anos de idade que passou a maior parte da vida trabalhando feito escravo, dizendo que um dia, quando o preço da borracha estivesse melhor, ganharia um bom dinheiro e voltaria para o Ceará para viver com a família, mas isso havia 40 anos e não era esse procedimento que a vizinhança presenciara, não era o preço da borracha que o transformara, mas o declínio de um homem que não conseguiu disciplinar o coração e marchou com ele em decadência num estado subumano quando deu os últimos suspiros.

                Conseguiu aposentar-se depois de tanto sofrer, mas se deixou enganar quando dele se aproximou uma jovem desconhecida, pedindo ajuda. Dizia ela que só queria ajudá-lo, limpar sua casa, fazer a comida, tratar daquele homem como filha, e em retribuição ele poderia auxiliá-la nos estudos. Assim, abriu as portas da casa desarrumada e também do coração. Para um homem só, acostumado a comer bolacha e a beber café por quase todos os dias, salvo algumas refeições que lhe eram dadas pelos vizinhos, ficava na rede com o rádio ligado ouvindo as notícias da terra natal, precisava agora de alguém que o ajudasse na velhice. 

                  Procurou melhorar a saúde, a fazer planos, a vestir-se melhor, a engraxar os sapatos, a pintar os cabelos, a aparar as unhas, a se encher de vaidade e de perfumes, e aos poucos foi esquecendo das promessas que fizera, da família que deixara, dos filhos agora crescidos e maiores e passou a cultivar seu jardim. Dizia-se feliz. Pintou a casa, comprou mobília nova, panelas agora cheias sobre o fogão, tudo cheirando a novo, da televisão em cores ao som que nunca antes escutara, letras cheias de críticas e lamentações contra o sistema que o inimigo insiste em dizer para a juventude que é coisa boa, porque embala e faz embriagar, a vender o corpo por uns trocados, a matar ou morrer nas madrugadas afora onde se diz que ninguém é de ninguém e que a vida se conta pelas curtições afora. A jovem simulou estudar e Antonio procurou presenteá-la. Ele recorria a Artur, seu melhor amigo, que o auxiliava nos dias de pagamento. 

                    Aquela cidade havia crescido, sua gente também, e já não era como no passado onde se dormia com janelas e portas abertas, pertences na área, roupas no varal, carro em frente de casa, nada, tudo agora se mantinha trancafiado, até as pessoas, como animais enjaulados, e muitas crianças que conheceu nos braços das mães, amamentadas, adoentadas nos hospitais, agora perambulavam pelas ruas, pedindo e tomando, batendo, matando, ausentes da escola e do ambiente de Deus. No lugar de um banco simples havia uma agência moderna cheia de códigos e números cujas máquinas o ancião não sabia operar. Sabia cortar a seringueira com golpe de mestre, e mesmo assim não a sugava, não a matava, extraia apenas o necessário para sobreviver; sabia plantar e colher, prover a despensa com a pouca manutenção adquirida na cidade, mas ali precisava de ajuda para retirar o que lhe pertencia, e além do mais Antonio não conseguia entender aqueles números e letras, era analfabeto e andava com as senhas na carteira que sempre guardava na mesa da sala. Muitas vezes viu amigos seus pedirem auxílio a pessoas desconhecidas, noutras sabia dos roubos e mortes praticados contra os velhinhos indefesos, das falsas amizades, dos falsos parentes, dos falsos procuradores, dos que sempre se aproximam quando o assunto é dinheiro, e recordava-se mais uma vez do suor, das amarguras na travessia rumo à Amazônia. Eram números demais na sua cabeça, isso era modernidade, e confiava no amigo que fazia sempre com atenção e paciência. 

                     Antonio recebia a pensão e todos queriam saber para onde ele a destinava, mas calavam quando carros do comércio vinham cheios à sua porta com mercadorias para o mês, com mobília, compras em geral. Ele também pagava o financiamento da casa, tinha comprado roupas para a jovem, perfumes, celular e tudo era pago a longo-prazo, talvez menor do que o restante dos dias que dispunha. Ganhou cartão de crédito, cheque especial, e fez mais empréstimos, fez dívidas de norte a sul, não se continha e era facilmente assediado pelas financiadoras que lhe prometiam a realização de sonhos com financiamentos a juros baixos, os melhores do mercado. Tudo para ele era bom e mais uma vez o velhinho fazia o pedido e em poucos dias o dinheiro estava na conta, e depois queria explicações quando os descontos se apresentavam no extrato bancário. Até limite pegava do banco, e no final dava um bolo só, como as bolas de cernambi que fazia, e retirava. Portanto, tudo agora que adquirira provavelmente já não era seu, tampouco o benefício, só os juros que o sufocavam e o espremiam, como as dores que rasgavam seu peito, como se o coração pedisse uma trégua, clemência, em busca de superação. Como passar o resto da vida aprisionado às dívidas? Era só a jovem dizer que ia embora que Antonio lhe estendia a mão, pedia paciência, mergulhava ao fundo do poço e raspava da areia que o cobriria mais tarde, cedia, pedia emprestado aos agiotas da cidade, sempre benevolentes e amigos para todas as ocasiões, a juros altos. Ficou desconsolado e adoentado quando a jovem disse-lhe novamente que partiria. Quis curar a dor com um gole de álcool que misturava com açúcar, e ficou quase morto em casa, salvo pelos amigos mais uma vez, sem os filhos, sem a família, sem esperança, sem amor. Como explicar tudo aquilo? 

                         Quando encontrou a jovem ela disse que só ficaria na casa se ele deixasse o amigo dela ir junto, e também se Antonio a nomeasse procuradora para resolver seus negócios, nada do vizinho. Antonio aceitou porque estava cheio de intenções de amor, e esta era uma sentença. A enfermidade chegou-lhe ao leito. Ninguém se incomodava com isso. Tudo estava vazio na casa, só papeis, talões e faturas novos de cobrança. O pecado reinava, cheiros de álcool e droga poluíam o ar de uma casa que um dia foi edificada para receber o amor. Companhias estranhas aos olhos de Antonio o confundiam com os filhos que ficaram na infância esperando por ele. Mandaram-no para o hospital, como um indigente, um homem cuja identidade perdeu, sem parentes e com endereço certo nas empresas de restrição de crédito e em todo o comércio da cidade, porque os que ficaram sãos sugaram-lhe tudo. Era tarde demais para descobrir que aquilo não passou de farsa para apoderarem-se do pouco que lhe pertencia. Como beneficiário e por morar sozinho, poderia ter economizado e tratado o coração, ter buscado a família e o amor dos seus, o conforto tão esperado. Pediu apenas que o amigo Arthur escrevesse e dissesse que ele foi um bom homem, que trabalhou honestamente, que se embrenhou nas matas em busca de sustento, cortando seringa, quebrando castanhas até a vinda do benefício. Não conheceu as letras, mas muitas palavras de salvação não lhe foram suficientes quando se deixou levar pela ilusão. Preferiu dar seu amor, que era puro para quem não merecia, e um coração sem Deus é vazio, só uma porção de tecido vivo no peito, que, unido ao cérebro e ao sistema nervoso deixa o homem em tal estado, cego ao extremo de tirar a vida do próximo, de morrer por tão pouco. 

                      O ser não humano não é computador, e de tanta carga a memória fica lenta, incomoda, fere, e por vezes percorre caminhos de pedras e de espinhos em busca de uma felicidade que jamais encontrará, porque a felicidade do mundo é patrocinada pelo inimigo, pelos prazeres da carne, expostos na tabela da matéria, e a de Deus, gratuita, encontrada na comunhão, no amor ao próximo, no seio familiar e nas boas obras. Muitos corações param quando homens pensam na eternidade da vida sem Deus. Antonio é um personagem que criei, e que os reais caminham todos os dias no Brasil afora, no nosso Acre, com suas lutas e vidas, indefesos e maltratados, sozinhos ou em família, nos asilos, administrados por terceiros, mal alimentados, enganados, sem ver seu tostão, mesmo percebendo uma renda suficiente para viver com dignidade. Perecem diante de falsas amizades e muitas vezes pelo desprezo que lhes dão. Devemos dar amor e carinho ao próximo, aos nossos chefes de família, aos nossos pais e anciãos, a essa gente que faz a história dos combatentes soldados da borracha, dos aposentados e pensionistas, mas devemos sobretudo pedir a Deus que direcione seus caminhos, para que, com Ele, saibam encontrar a verdadeira salvação, o verdadeiro amor. Embora estejamos lutando contra o pecado, é através do Pai que a ajuda acontece, e não é só material, ganhamos, quando permitimos, o Espírito Santo de companhia, que nos guia, que nos orienta a fazer o bem, que persegue o inimigo e nos fortalece, que nos traz a verdadeira felicidade, o verdadeiro amor, que nos dá salvação pelas veredas do bem. É preciso aceitar o entardecer dos nossos anciãos, a honrar suas lutas.

                              Todo caminho do homem é reto aos seus olhos, mas o SENHOR sonda os corações.

Entre quatro paredes 1

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Pessoa

Entre quatro paredes


Paulo


Todo homem tem sua reserva sentimental. Saber usá-la é basicamente uma regra de sobrevivência. Ainda que reinem impérios de sentimentos ineptos, o homem precisa de alguém cuja sensibilidade e carinho possibilite-lhe a transformação de espírito rústico em lapidado, pelo coração. Nada contra os fãs da solidão. A vida, porém, a dois, deveria ser saudável de corpo e mente, de constituição familiar, com uma mãezinha disputada entre filhos e pais, uma filhinha linda que pronuncia as primeiras palavras, e se transforma numa linda mulher.     



Desconheço algum homem que não tenha amado uma mulher, ou mesmo desses amores proibidos, como dizem. Não creio em amores proibidos. Amor é o oposto, é liberdade, não falsidade ou vício. Já virou mania o radar sentimental falhar, quando insiste em detectar a pessoa ‘errada’, que o pobre coração, cego, alerta a mente de que aquela é certa, e você quer apropriar-se, como um invasor em terras alheias. Se você quer um par assim, que seja bom e paciente, e acredite no tempo, não abuse do que tem. Pode ficar sozinho. Olhe que seletividade não significa bom gosto ou bom senso, arte ou dinheiro, onde todos olham para cima, namoram figuras que nem sequer conhecem, e as arrematam sem esperar o som do martelo. Depois, as dependuram na parede da sala para terceiros contemplarem e, ali permanecem, sem valor nem companhia, apenas para outras quatro paredes.  



Muitos ameaçam a própria vida porque penetram em caminhos tortuosos, fios sensíveis do coração, querem multiplicar problemas mais que solução.



Quando estamos em quatro paredes com uma mulher tudo o que mais queremos é vê-la ‘descascadinha’, como diz um amigo, é sentir seu cheiro, é admirar suas formas, é ouvir sua voz, mesmo que seu manequim seja GG. Existem as divisões de problemas, de finanças, de direitos e deveres, mas e daí? Depois das confissões e de uma noite de prazer muitas coisas voltam à forma gravitacional de ser e você põe os pés no chão.



Homens e mulheres têm procurado dormir mais cedo para contemplar seus sonhos, que vêm recheados de belas princesas e príncipes encantados, realizações financeiras, ou seja, os olhos materiais falam mais que a própria vontade de alcançar o verdadeiro amor. Geralmente a vida urbana é como uma vitrine de jóias raras fabricadas por alguém que sequer usa bijuterias, porque também é um sonhador.



Muitas estórias são escritas em novelas e romances, onde você se encaixa perfeitamente naquilo que é escrito, vivido, e que o autor, que não é Deus, modifica tudo e faz o que bem entende. Você espera um desfecho feliz e a ficção dá-lhe recursos para mudar. Então se sorri ou se chora, pelas palavras escritas, que se transformam em atuações e estrelato. Personagens da vida real falam de uma vida terrena melhor, de direito de ser feliz, de amar, mesmo a partir de seu estado humilde de assalariado ou desempregado, ou você tem assistido luxo e lixo juntos no seu ibope? Se ninguém é de ninguém, que o amor seja para todos. 



Muitas histórias de amor nascem da simplicidade, do companheirismo, da cumplicidade. Não é fácil amar homens e mulheres falidos, mas pergunte a um deles se lhe valem falidos fiéis ou ricaços esnobes e traidores? Há os que resistem, pelo dinheiro, outros que preferem, em quatro paredes, planejar, namorar, beijar e esquecer as coisinhas insignificantes, que todos podem viver muito bem sem elas.  

Subir na vida 1

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Reflexão

Subir na vida


Paulo Roberto



Não conseguirei
Fazendo-me de mochila sobre as costas de alguém


Alguém que já leva peso e sonhos o bastante para poder acordar

‘Colando’ as respostas do colega que estudou

Porque desanimei, desisti do concurso, porque fracassei

Frustando-me ao dizer que admissão é caminho estreito e não poderei estar no rol de aprovados

Porque não pude esperar numa fila

Envergonhando-me das coisas pequenas


Preferindo sentir o vento no embalar da rede (em férias eternas), a arregaçar as mangas e levantar a poeira

Deixando-me passar por este ou aquele com vergonha de mim mesmo

Permitindo-me ser fashion para aquilo que não é moda pra mim

Desrespeitando os pais, não ouvindo seus conselhos

Achando que o melhor caminho é o rabisco que criei no meu mapa, embora não o saiba compreender 

 

NÃO!

 

Subir na vida requer-se mais que isso

Já no primeiro degrau checarei o manual infalível da família

Consultarei os direitos autorais dos meus pais, dos amigos que me ajudaram

Que minhas lágrimas e suor derramados não me molharam, mas lavaram-me a alma

Que o fardo pesado foi puro negativismo

Porque de repente percebi  que o que me sobrou foi o que pude contar: amizades, compreensão, incentivo, carinho, paixão e amor

Paixão pelo que fiz e pelas coisas que ainda farei


Ainda que a parcela seja mínima, que a vontade, gigante, é um bom começo

É começar triunfante

Ainda que dos alto-falantes ecoem gritos de negativismo e teimosia

Procurarei alegria, minha vida é o bastante

Ainda que teimem em dizer-me que não irei conseguir

E daí? Tenho esperança, força e vontade, necessidade de viver

 

SIM.


Para um pedido de desculpa, para saber perdoar, para ajudar os que esperam na fila

Para a subida, para as lições, para os conselhos

Para abraçar quem me incentiva

Para as torcidas por cada um de nós

É preferível galgar os degraus com os recursos de que disponho, a disfarçar-me de fraquezas que criei


É na subida, passando por gente desanimada, enfraquecida, injustiçada e aflita

Que encontro forças para não desanimar

Seguro-lhe à mão, pois a próxima parada pode ser a nossa

A minha oportunidade de dizer que venci, que superei obstáculos

Isso não depende só de mim, mas e principalmente dos meus inimigos

Que torceram pelo meu fim


E para eles tenho mostrado que driblei as dificuldades que persistiram

Que não dei trégua aos sonhos para conquistá-los

Não desisto! Não desista! Coragem!

Porque subir na vida não é maltratar ninguém

É contar suavemente a doce história dos que triunfam

Com a vida que ganhou

Com o pouco que se  tem

E verás, lá no topo, que o tempo passou

Que tudo de bom restou.

 

E a recompensa vem.

Se Deus quiser

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Especial

Se Deus quiser

Paulo Roberto

                 

   Era uma data especial na pequena vila, e como de costume, os dias do calendário eram iguais para Francisco, que saiu de madrugada para a lida diária. Trabalho braçal era o seu ofício, desses em que o homem deixa a caneta e se apega ao aço, e aquele dia era tão comum quanto à cena viva de profunda miséria em sua humilde casa de mutirão. Cinco filhos para sustentar e a mulher, na iminência de dar à luz a mais uma vida, eram nomes comuns, perdidos no mundo moderno em que se encontravam.

                        Quando retornou para casa, ao entardecer, trazia as mãos calejadas de segurar firme o terçado, às vezes precisava da foice ou da enxada conforme o estado físico de cada terreno que empreitava para limpeza. Mas era um homem firme na fé. Sempre dizia que se Deus quisesse ele sairia daquela situação.

                        Sua mesa não era posta de alimentos de cardápio comercial. Não tinha opção. Às vezes levava batata taioba para comer, e das folhas preparava sopa; noutras, mangas, que as crianças disputavam com as moscas, ou alguns peixes miúdos do igarapé, cujas águas, de tão limpas, refletiam a imagem de um homem com sede de mudança, de vitória, que nela mergulhava e refrigerava a mente. Nem a panela vazia tirava-lhe a esperança e a fé de um dia vê-la repleta de alimento saudável para os filhos, porque se honestidade contasse, já começariam ganhando como pessoas honestas e trabalhadoras, vindas do interior, das matas e dos seringais, e se estavam na vila, é porque seus sonhos cresciam como aquele lugar promissor. Francisco jamais deixou de agradecer a Deus pela vida que tinha, pelos momentos difíceis por que passava.

                        Nos finais de semana faziam carvão de madeiras de refugo de uma serraria da localidade, e procuravam ossos ou úberes de vaca para arriscar outra qualidade no caldo com chicória. Também catavam latas para vender. Eram muitas, dezenas espalhadas pelas ruas, líquido despejado goela adentro de algum corpo sedento de vício, amantes noturnos, pessoas do crime, da vida fácil. O tempo passava assim, e a família crescia, sem dignidade, vendo a esperança ameaçada. 

                        Certo dia Francisco saiu à procura de um emprego na vila, mas precisava estudar. Antes de informar-se sobre a matrícula, entrou na igreja e fez sua oração, até pediu que lhe deixassem escrito seu pedido: Senhor, Tu sabes do nosso sofrimento e da nossa dor, ajuda-nos a sair desta situação, porque somos honestos e precisamos sobreviver. Não se conteve, porém, ao ver um mendigo aos trapos, em situação pior que a sua, clamando por comida e abrigo, dividido entre o trânsito e as chacotas dos meninos de rua. Num mergulho vagaroso ao fundo do bolso, com passos lentos de homem exausto e triste, deu-lhe a única moeda que compraria pão para a família. Desolado, voltou para casa.   

                        Não conseguiu matricular-se porque não dispunha de documentação pessoal. Seu registro ainda estava sob processo judicial na capital. Era longe e não sabia como buscar informações. Ao chegar em casa, a mulher o esperava aflita, dizendo que a energia elétrica havia sido interrompida por falta de pagamento e o filho menor estava febril. Francisco levou a criança ao único posto de saúde, mas como a situação era delicada, recomendaram-no ir para a capital. Procurou o administrador para receber auxílio, mas apenas desculpas de que os recursos específicos para casos daquela natureza não se encontravam disponíveis. Seu filho ardia em febre, tomado por infecção. Sem condições de transportar a criança, disse ajoelhado, com as mãos erguidas para o céu: Senhor, por que não mudas a minha situação? O que preciso fazer para alcançar tua misericórdia? E continuou andando a passos largos, sem direção.Avistou o pobre pedinte, e foi ter com ele uma conversa. O mendigo disse que Francisco era bom coração e Deus estava do seu lado. Tenha fé. Francisco agradeceu a força e saiu em direção, naquele mesmo momento, à igreja. Conseguiu auxílio e levou o pequeno para a capital.

                        Quando o filho sarou, Francisco voltou para casa. Ao chegar na vila, viu inúmeras pessoas e comentários mil a respeito do mais novo ganhador da loteria, porém desconhecido. Francisco não sabia ler nem escrever. Não conhecia números e os letreiros indicativos das placas de ônibus, que muitas vezes perdeu e amargou longas horas de espera porque lhe faltava leitura, e tinha vergonha de perguntar àquela gente sisuda.

                        Muitas vezes calculava o tempo olhando para o sol, como nos seringais que trabalhou, porque não conhecia os digitais dos relógios modernos. Rumou para casa e avistou um vulto imóvel que o assustou. Quase desistiu de continuar os passos, pois as pernas tremiam, mas sabia que não tinha energia em casa e o lugar estava cada vez mais perigoso. Muitas famílias tinham vindo do interior e não conseguiam emprego. Muitos filhos deixaram o seio familiar para perambular pelas ruas e encontravam soluções fartas no mundo do crime. Era difícil reconhecer aquele vulto em meio à escuridão, e acelerou, porque queria dizer para todos que a criança estava bem e aguardava alta e condições para voltar para casa. 

                        Ao abrir o portão, desvendou o mistério, ao ouvir aquela voz rouca de quem o cumprimentara e o incentivara. Era o mendigo, mas não aquele mendigo. Um homem elegante, de terno e gravata, de pasta na mão, perfumado, com motorista. O homem disse: Meu amigo Francisco, quando você me deu aquela moeda eu tive duas opões: comprar comida ou arriscar a sorte. Preferi a segunda. Não é que acertei o bilhete premiado? Ninguém me valorizava, ninguém me conhecia, porque eu era apenas um pobre mendigo, sem sorte na vida até encontrar você, que me reconheceu como humano. Agora todos querem saber quem sou para vir a mim, pedir, como mendigos. Todos têm curiosidade para vir a mim como Judas. Amigos de verdade, entretanto, são pessoas como você, que compartilham, agradecem, não se esquecem de Deus e da esperança que não esfria. Vim aqui lhe doar a metade do que tenho. Francisco agradeceu a oferta milionária e os dois se abraçaram. Estavam ricos. O homem saiu em direção ao carro, deixando apenas no ar o doce aroma, como os bons ventos que agora sopravam na realidade de Francisco, o sonho alcançado pela sua fé. Francisco saiu com a família pelas ruas da vila e ninguém os notara, salvo os que o ajudaram e foram ajudados também. Eram mais um contingente de pobres trafegando sem direção, rumo ao desconhecido.

                        Muitas vezes achamos que ajudar o próximo é tirar-lhe a iniciativa, a liberdade, mas muitas portas continuarão fechadas mesmo com as batidas leves da oportunidade. Tantas pessoas em nossa cidade, no Brasil e no mundo, preferem jogar toneladas de alimento ao lixo diariamente a doar para os necessitados. Outras queimam ou simplesmente guardam roupas, sapatos e pertences seminovos porque impedem a continuidade da moda e de suas superstições. Trocam de mobílias, carros, fazem empréstimos altos sem necessidade, viajam em férias para paraísos às custas do contribuinte. Quantas pessoas lamentam e choram a sorte, quando o recurso é pouco, outras maldizem o sistema e os pais, que apesar das dificuldades esperam ver nos filhos bons e futuros profissionais, e para isso espicham o corpo no sol e na chuva para ganhar sustento. É preciso agir. A vida é um projeto que o tempo reserva a cada um, e se gasta com ações. Tudo o que da vida se levam são os frutos cujas sementes plantamos aqui na terra, e sementes plantadas com amor se transformam em árvores frutíferas e frondosas, e de seu alimento o homem necessita para crescer na fé e na perpetuação da palavra Divina.

Antes do julgamento

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Reflexão
Antes do julgamento


Paulo Roberto



    Antes do julgamento de valores, de visual estético e da própria situação econômica de cada um, existem julgadores que se esquecem de olhar para si diante do espelho e para dentro da alma quando de suas ações. Esquecem-se de agradecer a Deus pela oportunidade de contar sua história, de respirar o mesmo ar, de beber a mesma água e de poder partir pelo mesmo caminho que os trouxe à vida e nele percorrem até hoje.


                        Alguns costumam criticar o necessitado pela aparência que ele causa diante de seu pouco ou quase nenhum recurso, ao passo que reclama do emprego e do salário que tem, que já não permite esbanjar, calcular os juros e as correções de uma vida desregrada. Parece irônico quando você não gosta dessa ou daquela pessoa e à ela sempre recorre nos seus momentos de crise, de busca de auxílio, e mesmo contra a vontade existe apenas ela e você não tem como se esquivar, e às vezes pela dor, pela necessidade, pelo sofrimento, culpa ou pela profissão chega ao seu desafeto, ao seu inimigo e pede.


                        É também irônico quando alguém falta atropelá-lo na avenida principal ou na estrada, em alta velocidade, às vezes o vendo na chuva, noutras sob um sol escaldante ou até com o pneu furado, com uma mulher grávida no banco do carro enguiçado, com uma criança doente e sequer olha para você, e mais tarde, por um motivo ou outro essa mesma pessoa necessita de seu auxílio e você prontamente a atende, dando-lhe carona e cumprimentando-a com um tudo bem. Até oferece-lhe da sua água, dá-lhe um sorriso até. Isso alivia e não maltrata o seu corpo e o seu coração. O pior de tudo é recebermos favores e sequer atentarmos para saber o nome de quem nos ajudou, e ninguém costumar anotar isso, quer sempre mais.


                       Quando o julgamento é incoerente você não ouve os conselhos dos pais e sai correndo com os melhores amigos e amigas, mesmo que ecoem em seus ouvidos os conselhos de que esses não são seus verdadeiros amigos. Você não dá a mínima e quebra a cara, é tragado pelo álcool, engravida, sofre, fica dependente e vai criar sua cria a seu modo nenhum, sem direito à juventude, à experiência de vida dos pais, porque ignorou na saída e se resguarda em sofrimento e dor. Experiência de vida é para quem muito viveu ou para quem aprende a cada dia as lições que a vida dá? Às vezes o golpe de nossas línguas corta impiedosamente todos os ossos do corpo, já disse um pensador, e tombamos com todas as expressões, com todos os nossos preconceitos.


                        Julgar do tipo isso não acontece comigo ou com minha família é até temeroso dizer nos dias de hoje, não funciona mais. Criar filhos indisciplinados é ruim, mas sob tortura é recompensa e acúmulo de mais sofrimento. Os filhos melhores não serão mais inteligentes mantidos em casa por castigo, por peraltice ou  desobediência. Assistem tv e querem copiar tudo o que as novelas editam, modas, baladas, bebidas, diversão e a lição vai sendo esquecida, página por página até o momento da necessidade que somente o tempo conhece. Rigidez, espancamentos, agressões verbais e físicas são vistas todos os dias no cenário familiar, social. As coisas mudam num piscar de olhos. Raramente os filhos pedem bênção aos pais. Não adianta manter o filho em casa porque ele chora a todo instante querendo aquilo que você não pode dar e comprar. Dê-lhe iniciativa própria, ferramentas, conhecimentos de que tudo o que se adquire tem um preço, e se alguém compra um objeto é porque gosta ou necessita e as coisas alheias só aos donos pertencem. Se você compra tudo o que ele pede e se afunda num mar de dívidas ele sempre vai querer vê-lo mergulhado, se afogando, porque você esqueceu dos salva-vidas, sempre diz sim e sorri diante do fracasso, do atraso de vida em que se encontra. Ninguém vai olhar diferente se você deixar de pagar aquela conta, mas vai achar estranha a sua reputação quando muitas se somarem. Uma coisa é honestidade; outra é compulsão. É melhor que eles saibam que até os sonhos nos dias de hoje têm limites, que procuramos economizar para comprar, que precisamos trabalhar para sobreviver, que precisamos ser felizes com os recursos de que dispomos nos lugares onde estamos, porque os raios do sol emanam calor e brilho, e a lua ilumina nossas noites escuras no momento certo.


                     É irônico você lamentar seu trabalho quando milhões de pessoas em pior situação sonham em ter um desses para si, para pagar suas contas, comprar uma casa, viajar, isso mesmo, economizando, não desperdiçando. Certo que você não se importa, não assina ponto, sai do expediente, volta apenas para confirmar a presença do dia, de dizer que esteve no local. Não lê uma notícia, acha tudo chato, um tédio, não procura interagir na vida funcional, quer aumento mas a cabeça está sempre vazia, assim como seu currículo com apenas seus dados pessoais, número do RG e do seu CPF. Mesmo assim, isto quer dizer que você é alguém importante mas não tem dado valor para isso. Não adianta invejar a vida alheia, principalmente de um trabalhador. Trabalhadores têm que ser recompensados, ganhar bem, dar dignidade à família quando está fora, mas nem sempre isso também acontece. Para isso Deus criou a nossa anatomia, cedeu-nos braços e pernas para a execução das atividades, com mente para decidir o que é certo ou errado. Se você tem formação superior e não o emprego esperado, calma, as oportunidades não aparecem num piscar de olhos.


                    Costumo às vezes dizer para meus filhos que procurem espelhar-se nos bons exemplos de vida, sempre relatando para eles a minha história. Ser humilde não faz vergonha a ninguém, mas ser arrogante e pedante ao nada que existe em você é tão pequeno quanto à recusa de não querer crescer. Tenho poucas amizades porque todas são verdadeiras, são meus melhores amigos, uma família, e acima de tudo são simples, senão não seriam amigos. Amigos são os que nos escutam e sempre se fazem presentes, não demonstram insatisfação, aborrecimentos, compreendem-nos e respeitam nossa dor e aflição. Quando alguém desabafa o mínimo que precisa é de confiança e de um ombro amigo, embora as lições adquira depois do pranto, e nada mais irônico do que se planejar meses a fio uma vida que se fez e emergirá para o mundo, com toda a oportunidade que ele oferece, se no seu engatinhar, cair e se levantar não houver lições, palavras de incentivo, de confiança e de amor. Será uma vida infeliz, dessas que teimam em não querer viver.    

Depressão

Nota 1Nota 2
Nota 3Nota 4
Nota 5Nota 6
Nota 7Nota 8
Nota 9Nota 10
Categoria: Depressiva
Depressão

Paulo Roberto

De tudo que ainda me resta

É um coração triste e uma alma abatida 

Providencio, silenciosamente, que a alma e o coração, em festa

Retirem as agonias que me entristecem a vida

Esperança entra em cena

Se vai, vagarosamente, nas frias noites de minha insônia

Silenciosa, chorosa e triste

Alguém me ouve nessa agonia?

Oh vida, oh céus, amanhã é outro dia.
Carregando