Lazer
Comenta-se, excessivamente, quanto à necessidade do lazer, como medida de repouso e de renovação de forças.
Lazer, sim; ociosidade, não.
O homem é, biologicamente, preparado e programado para a ação e não para o repouso.
O dinamismo vitaliza-o, desenvolve-o, enquanto que a imobilidade enfraquece-o, atrofia-o.
Lazer não significa falta de atividade, mas mudança física, emocional e intelectual de atitude, de trabalho.
A ação motiva a vida; o repouso desestimula-a.
O lazer é necessário para facilitar o relaxamento das tensões, para possibilitar a reflexão, a programação de novas atividades.
Mas não é eficaz somente quando se realiza em estações balneárias, campos de desportos, praias, montanhas, viagens bem concorridas.
Esses mecanismos de lazer obedecem a exigências de mercados que vendem emoções novas, produzindo outros estados de angústia, de ansiedade, de cansaço.
O lar e a família, o refúgio num lugar solitário, a música, o silêncio da prece, propiciam estados íntimos de lazer com excelentes resultados para a renovação pessoal.
Há organizações especializadas em lazeres que desumanizam o indivíduo, que passa a ser manipulado por especialistas que lhe impõem o que lhes parece melhor e não aquilo que, de fato, cada homem quer e necessita.
Apoiando-se no lazer para evitar a neurose do trabalho, os que param de atuar quase sempre se tornam vítimas da neurose da falta do que fazer.
E é por essa razão que muitos tiram férias e viajam, se refugiam em recantos naturais, praticam esportes dos mais variados, e voltam mais cansados e infelizes do que antes.
Por que isso ocorre?
É justamente porque o repouso significa a mudança de atividade. Mas de nada vale mudar de atividade e levar na mente as várias preocupações e neuroses do dia-a-dia.
O ser humano não é como um aparelho eletrônico, que basta acionar um botão para desligar. Se fosse assim seria fácil e prático.
A mente humana é esse mecanismo que leva em si mesma os elementos de calma e tranqüilidade ou motivos de preocupações e ansiedades, para onde quer que vá.
Por essa razão, a mudança de ambiente ou de cidade, por si só, não resolve o problema do estresse, nem oferece o descanso necessário.
É preciso oferecer lazer e descanso também à mente. Além de mudar as atividades rotineiras, é preciso ter uma certa consciência tranqüila.
É cumprir com suas obrigações diárias; ter organização e disciplina no trabalho, não sobrecarregando os colegas com deveres que são seus.
É estar bem com os afetos, com as responsabilidades assumidas, com as contas em dia.
A não ser assim, você poderá fugir da cidade, do país, do planeta, mas quando apoiar a cabeça para o repouso tão desejado, perceberá que levou consigo os verdadeiros motivos do seu estresse e da sua ansiedade.
Buscar momento de lazer, sim. Mas fugir de si mesmo, é uma tentativa que não funciona.
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O trabalho, longe de ser motivo de cansaço e estresse, é valioso tesouro que nos propicia viver com dignidade, dando utilidade às horas.
Nesses momentos de mais lazer e ociosidade que trabalho, merece consideração o ensino de Jesus: "o Pai até hoje trabalha e eu também trabalho".
Com isso podemos concluir que o trabalho não é um castigo nem deve ser encarado como uma obrigação indesejável, mas como fator indispensável para o progresso e a evolução do ser.