maria da graça almeida | Poesias e Mensagens Virtuais

Mensagens de maria da graça almeida

Beija-flor 4

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Cantinho:
Categoria: Amor
 Beija-flor 
Maria da Graça Almeida 

Toda vez que comovido 
bem de leve toca a flor 
sai com o bico ferido, 
retirando-se sem cor! 

Desolada com a cena, 
a Margarida com pena, 
doce, pede ao passarinho, 
que lhe dê o seu carinho. 

A ave, voando em festa, 
pressente do espinho a dor 
e teimosa só empresta 
beijos sempre à mesma flor! 

Margarida com ciúme, 
desprovida do perfume, 
chora ao vir o bem amado 
pela Rosa maltratado: 

-Não tenho dela o odor, 
porém, não possuo espinhos, 
beije-me com muito amor, 
eu não firo passarinhos! 

- Flor miúda, graciosa, 
meu martírio ora lhe digo, 
eu jamais amei a Rosa, 
amo apenas o perigo! 

Pai com açúcar

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Cantinho:
Categoria: Comemorativa
   Pai com açúcar 
Maria da Graça Almeida 

Queria o ídolo 
ainda criança, 
de gesto profundo, 
de crenças maduras, 
que me acalentasse 
com voz da infância 
e me orientasse 
na vida futura. 

Queria o ídolo 
tranquilo na fala, 
sereno nos olhos, 
suave nas mãos, 
disposto ao livro 
das velhas escalas, 
pra fácil compor 
a nova canção. 

Queria o ídolo 
de francas verdades, 
que orasse em silêncio 
e ouvisse a razão 
e na noite finda 
tal qual serenata 
abrisse as comportas 
da antiga emoção. 

Queria o ídolo 
de farta poesia, 
de longos poemas 
e breves haicais. 
Queria de novo 
o meu velho amigo, 
queria outra vez 
as doçuras do pai.

Convívio virtual

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Cantinho:
Categoria: Internet
Convívio Virtual 
Maria da Graça Almeida 

Nas noites chegando mais tarde, 
nos dias amanhecendo mais cedo, 
aprendi que 
é importante concordar sem se corromper 
e discordar sem fazer inimigos; 
a ironia desconcerta 
e atrás dela existe uma intenção 
ainda mais contundente 
do que ela,  propriamente. 

Senti que 
atrás de toda letra há um homem 
e de toda vírgula, um suspiro;
 a tolerância é virtude dos grandes; 
a paciência faz o homem maior; 
a compreensão eterniza o ser. 

Pressenti que 
atrás de meias palavras há a indecisão, 
na palavra inteira, a disposição, 
nas reticências há a inquietude. 

Entendi que 
na interjeição há a luz da indignação 
e na interrogação, o retrato da curiosidade; 
entre os parênteses há a rubrica da solicitude 
e entre os dois pontos, a intenção da claridade. 

E, enfim, conclui 
que o ponto final é o princípio do fim
e que no princípio do fim 
está o início da saudade.

 


 


Cada qual

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Cantinho:
Categoria: Reflexão

Cada qual
Maria da Graça Almeida

Cada qual com os seus olhos,
cada qual com sua dor,
cada qual com seus restolhos
e os retalhos de um amor.
Cada qual tem o seu jeito,
cada qual os seus anseios.
De empanar os seus defeitos,
cada qual arranja um meio.

Há o branco, o amarelo,
há o negro, o pobre, o rico,
neste mundo o feio, o belo,
todos correm os seus riscos.
O que vale é o de dentro,
seja lá qual for a cor,
não se gabe se seu centro
provocar só dissabor.

Cada qual com as virtudes
cada qual com seus delírios,
tudo traz inquietude,
a ventura, o martírio...
Não importa de onde vem,
não importa o que tem,
mesmo nunca sendo iguais,
todos nós somos mortais.


Precipitação

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Cantinho:
Categoria: Reflexão

Precipitação
Maria da Graça Almeida

Não julgue
o peito pela gravata,
o  ser pela data,
a voz pela boca,
 a cabeça pela touca,
 o fato pelos sentidos,
o cão pelos latidos.
 
Não rotule
 o presente pela caixa.
o vinho pela garrafa,
o  livro pelo autor,  
a peça pelo ator,
o feito pelos perigos,
as dores pelos gemidos.
 
Não classifique
o homem pelo retrato,
 o pão pelo formato,
a comida pelo prato,
o perfume pelo frasco,
a mulher pelos vestidos,
 o casamento pelos maridos.

Seja lá o que for,
avalie apenas
quando sabedor
da massa que recheou
   as profundezas
do espaço interior.


 

Em algum lugar 3

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Cantinho:
Categoria: Geral
 

















Em algum lugar 









Maria da Graça Almeida 


Neste exato momento 

há alguém partindo, alguém chegando; 

há alguém sorrindo, alguém chorando. 

Na complexidade do universo, 

nenhum minuto é de dor absoluta, 

nenhum segundo é de plena alegria, 

tampouco de completa apatia. 


Neste exato momento, 

há um bebê que experimenta 

um choro temeroso, profundo, ansioso. 

Neste momento, de mim muito próximo, 

pela origem, pelo afeto, 

há alguém lutando pela vida, 

ou dela desistindo, a cerrar os olhos 

no desvendar dos mistérios e segredos, 

no gozo da surpresa e do medo. 


Neste momento há seres entregues, 

amando-se loucamente 

e seres odiando-se cegamente, 

sem a preocupação com o amanhã, 

na benevolência da afirmação, 

ou no egoísmo da negação. 


Neste momento há alguém traído; 

há alguém abençoado, alguém excomungado; 

há alguém sob a mira de um "tira", 

ou ameaçado pelo ofício de um bandido. 


Neste momento, há mais um aposentado sofrendo 

as conseqüências do tempo trabalhado. 

Neste momento há alguém derrotado, 

em batalhas onde apenas há vencidos. 


Neste momento, em algum lugar do planeta, 

há alguém escrevendo coisas que encherão gavetas; 

há quem no papel derrame letras 

que tomarão o tempo dos desavisados, 

cujo pensamento se ocupará da leitura 

das mais estranhas figuras. 


Neste exato momento, num profundo mal-estar, 

cá estou eu a sombrear a tela, 

querendo de algum modo me perpetuar, 

que se não através das nuanças 

dos versos de completa insignificância, 

talvez, através do enlevo e da emoção, 

que são de irrestrita relevância. 


Do mundo, em todos os momentos e lugares, 

sei que haverá, irremediável, 

a dor do temor, da impotência, 

da perda, da saudade, da desolação. 

E neste mundo, mesmo convivendo 

com os encantamentos e espetáculos, 

os espectros dos citados maus tratos, 

infelizmente, sempre nos ameaçarão. 


Neste exato momento, em algum lugar há... 

Maturidade 1

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Cantinho:
Categoria: Reflexão

Maturidade 
Maria da Graça Almeida 

É o tempo quando da procura já se possui o achado. 

Quando dos sonhos já se tem a direção 

e das ilusões a condução. 

É o tempo pleno do saber, do sentir, do conhecer, 

quando somos nós mesmos a resposta 

para quase todas as perguntas. 



É a melhor parte do caminho, lugar privilegiado, 

de onde ainda se avistam os arroubos da adolescência 

e com a mesma nitidez 

vislumbra-se a calmaria da grande idade. 

É quando da balança já se sabe dos pesos 

e das medidas, porque na convivência 

da esperança com a saudade, 

tem-se tanto para esperar, 

quanto se tem para lembrar. 

É quando já se pode escolher 

com conhecimento de causa 

e com a segurança do entendimento, 

pois em cada passo a ser pisado 

e em cada trilha a ser percorrida 

estarão as certezas da certeza e a certeza da dúvida. 

Posto que das certezas, não mais se duvida 

e das dúvidas tem-se a exata certeza. 


Que belo tempo, sublime idade! Madura idade! Maturidade! 

É a primavera do verão, o outono da primavera, 

é a multiplicação da emoção pela soma da espera. 

Limites 1

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Cantinho:
Categoria: Reflexão
 


Limites
Maria da Graça Almeida



Minhas janelas cerram-se quando
a emoção ousa falar mais alto do que a razão.
Tenho nítida a consciência dos limites,
sei onde se alojam meus pontos vulneráveis.
Não alimento os propósitos de um campeão
que batalha pela própria superação.

Meus passos são silenciosos,
minhas mãos, tímidas, frágeis...
Meus sonhos, desavisados, sempre
adormecem antes da concretização.
A excessiva cautela que me habita
retrai e distrai a força da intenção.

Das próprias fronteiras, conservo a percepção.
Meus marcos não demarcam, isolam.
Da impossibilidade, detenho a noção.
Meus limites não distinguem, segregam.
São chagas vivas... balizas da solidão.


Amar 44

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Cantinho:
Categoria: Amor
Amar
Maria da Graça Almeida

Amar é o arrepio que se sente no verão;
é levitar sem tirar os pés do chão;
é tentar dormir para outra vez sonhar
um sonho do qual não se quer mais despertar.

Amar é carregar um fardo de emoção,
é gelar as mãos no afã da pulsação;
é crer anil um céu dormente e desbotado
e ter o dia feito domingo ou feriado.

É o reflorescer seja em qualquer idade
e entre a razão e o coração pressentir
que a paixão não tem prazo de validade.

É manter no amado o primeiro namorado
e encantar-se com seu jeito de sorrir,
mesmo que com este já esteja acostumado.


Ninho vazio

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Cantinho:
Categoria: Saudade

Ninho vazio
Maria da Graça Almeida
O ninho ficou vazio,
quão vazio, o peito da ave-mãe.
Os passarinhos gorjeiam
e afastam-se do acinzentado
 
horizonte desolado.
De presente, solidão e saudade.
De repente, uma dor tardia arde
em face da lembrança
de antigas dependências.
Ah! Se eu fosse o Senhor
e tivesse Seu poder,
determinaria que os pássaros
jamais deixassem o ninho.
Que não houvesse partida,
que jamais brotassem
as lágrimas de despedida.
O ninho permanece vazio.
E vazio, perpetuará a melancolia
no peito da ave–mãe.
É necessário que se imponha
a força de um campeão
para que se sobreviva
ao sacrifício da separação.

O homem que cortou as minhas árvores

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Cantinho:
Categoria: Reflexão

O homem que cortou as minhas árvores
Maria da Graça Almeida

O homem que cortou as minhas árvores
não se ocupou do esforço da semente,
da extensão da raiz, da magnitude dos galhos,
da expressão das folhas, do propósito do fruto.
O homem que cortou as minhas árvores
não cuidou da semeadura.
Para o aprendizado ou o treino do plantio
é necessário curvar e quedar-se rente ao chão.
Nem todos estão dispostos a tal submissão.
A construção requer cuidado e responsabilidade.
A destruição é simples, basta uma palavra...
ou uma assinatura, um olhar, um gesto, um empurrão.
O homem que cortou as minhas árvores não sabe
dos sacrifícios do crescimento, das penas do amadurecimento,
das perdas do envelhecimento, das dores do sepultamento.
O homem que cortou as minhas árvores
desconhece do tempo, os prejuízos, os benefícios
e, ingênuo ou desavisado,
na chegada ou na partida,
julga que jamais provará das urgências da vida.
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Não só digo do homem que praticou a ação,
refiro-me também àquele que se dispôs
a colocar-lhe às mãos o instrumento da devastação.







Do artista

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Cantinho:
Categoria: Virtude

Do artista
Maria da Graça Almeida

Há um bailado sutil
sobre o pé que pisa forte;
há um transparente fio
a transmudar o veio em corte;
há inquietude do partir,
na mansuetude do chegar.
Há as cores do sentir
nos matizes do olhar.

Há, do certo, as certezas
não fundidas numa só;
há nuanças da beleza,
sem amarras e sem nó.
Há, na lida do artista,
o pendor à perfeição;
há um cérebro alquimista,
que transpira criação.

Passo

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Cantinho:
Categoria: Reflexão
Passo
Maria da Graça Almeida
Passo,
como passa a folha levada
pela insensatez do vento,
no jeito de ir sem sentir,
no modo de sair sem querer,
na forma de cair sem pedir.
Passo, como passa o pássaro,
que sem a anuência do divino,
põe um ponto clandestino
na palidez do horizonte.
Passo, como sem compasso
passam as gotas da chuva,
que por pressa ou, preguiça
descem sem escolher o caminho
e mesmo ao léu, sem destino,
invadem os poros da terra.
Passo e, díspares, imprimo veios
que caminham inconseqüentes
que se encontram em nascentes,
e se perdem em afluentes.
Passo, passo por passo,
com tropeços, com cansaço,
nas passadas dos percalços,
sem a dose do alento,
nos segundos do momento,
nas voltas, nos nós e laços,
nas idas e voltas do tempo.
Passo e, na dor do movimento,
piso um passo sem ungüento.
Passo...


A queixa do vovô

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Cantinho:
Categoria: Criança
A queixa do Vovô
Maria da Graça Almeida
Juro que não é mentira,
nem um conto exagerado:
o bebê vira-se e vira...
põe-me o corpo alquebrado!
Quando de todo cansado,
penso, deveras, confuso:
será que ele, enganado,
julga ser um parafuso?

Mimosa

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Cantinho:
Categoria: Felicidade
Mimosa
Maria da Graça Almeida

Mastiga e baba,
estica a língua,
tão-só com goiabas
sua fome não míngua.

A vaca é dengosa,
é dócil, é meiga!
Seu leite, Mimosa,
dá queijo e manteiga.

O leite bem feito,
carrega na luva,
assim, com efeito,
protege-o da chuva.

Em vez de uma jarra,
de rara beleza,
queria a Mimosa,
aqui, sobre a mesa! 

 

O grilo, a traça, o tigre

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Cantinho:
Categoria: Criança
O grilo, a traça e o tigre
Maria da Graça Almeida
Tremula o trigo
entre os grilos,
o grilo trila,
assusta a traça,
ela tropeça,
ele acha graça,
tropeço de traça
só traça não gosta,
tropeço de traça
é cheio de graça!
Da traça, o susto
espanta o tigre,
que sob as trevas
transita nos trilhos,
nos trilhos do trem
que rápido vem,
que vem do além,
trazendo alguém,
que troça da traça,
do tigre e de quem
travou sua língua,
tremendo também!
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