Maria da Graça Almeida Neste exato momento há alguém partindo, alguém chegando; há alguém sorrindo, alguém chorando. Na complexidade do universo, nenhum minuto é de dor absoluta, nenhum segundo é de plena alegria, tampouco de completa apatia. Neste exato momento, há um bebê que experimenta um choro temeroso, profundo, ansioso. Neste momento, de mim muito próximo, pela origem, pelo afeto, há alguém lutando pela vida, ou dela desistindo, a cerrar os olhos no desvendar dos mistérios e segredos, no gozo da surpresa e do medo. Neste momento há seres entregues, amando-se loucamente e seres odiando-se cegamente, sem a preocupação com o amanhã, na benevolência da afirmação, ou no egoísmo da negação. Neste momento há alguém traído; há alguém abençoado, alguém excomungado; há alguém sob a mira de um "tira", ou ameaçado pelo ofício de um bandido. Neste momento, há mais um aposentado sofrendo as conseqüências do tempo trabalhado. Neste momento há alguém derrotado, em batalhas onde apenas há vencidos. Neste momento, em algum lugar do planeta, há alguém escrevendo coisas que encherão gavetas; há quem no papel derrame letras que tomarão o tempo dos desavisados, cujo pensamento se ocupará da leitura das mais estranhas figuras. Neste exato momento, num profundo mal-estar, cá estou eu a sombrear a tela, querendo de algum modo me perpetuar, que se não através das nuanças dos versos de completa insignificância, talvez, através do enlevo e da emoção, que são de irrestrita relevância. Do mundo, em todos os momentos e lugares, sei que haverá, irremediável, a dor do temor, da impotência, da perda, da saudade, da desolação. E neste mundo, mesmo convivendo com os encantamentos e espetáculos, os espectros dos citados maus tratos, infelizmente, sempre nos ameaçarão. Neste exato momento, em algum lugar há... |