TrovaSiria Wagner Silva da Silveira.
ZÉ MORAES - Cumpadre me fale agora,
- Hoje é dia de São João.
- Então o que nois temo dentro das carça,
- Não é apareio de home não.
ZÉ PEDRÃO- Cumpadre isso não é verdade,
- Isso não é coisa que se diga,
- Pois eu sempre ouvi dize,
- Que é da muie que cresce a barriga.
ZÉ MORAIS- Te lembra cumpadre veio,
- No outro São João passado,
- Nois dois tava aqui,
- Comendo pinhão assado.
ZÉ PEDRÃO- E contando muita anedota,
- Dos bons tempos de pia.
- Cada um cuntava a sua,
- E a noite foi sem nois nota.
ZÉ MORAIS- Mas vortando ao assunto,
- Tu não acha que é inzagero,
- As muié indo pra festa,
- E nóis fica de casero.
ZÉ PEDRÃO- Cumpadre eu já desisti,
- De entedê essa situação,
- Minha muié falo tão arto,
- Que eu caí de bunda no chão.
ZÉ MORAIS- Pois aqui em casa cumpadre,
- A verdade nunca faiô,
- A muié falô “vai pru fugão”,
- E eu grito “já vô, já vô”.
ZÉ PEDRÃO- A cumadre cuntô lá em casa,
- Que o cumpadre Zé Mane,
- No outro São João passado,
- Cunquistô uma muié.
ZÉ MORAIS- Será que essa moça facera ,
- Eu já não cunheço o nome?
- Pois eu já ouvi essa história,
- Da boca de outro home.
ZÉ PEDRÃO- O cumpadre tarveis cunheça,
- A história que foi cuntada,
- Mais seria coisa séria ,
- Se subesse o nome da danada.
ZÉ MORAIS- Cumpadre a curiosidade,
- Já matô um home sério,
- Se eu não subé o nome agora,
- Tu me manda pru cemintério.
ZÉ PEDRÃO- Cumpadre essa muié,
- É uma cumadre minha,
- Que de tanto ir festa sem marido,
- Perdeu a vergonha que tinha.
ZÉ MORAIS- Cumadre tua, que eu saiba
- É só a minha Joana!
- Pedi perdão raio de home,
- Sinão tu deita em outra cama.
ZÉ PEDRÃO- Perdão eu não peço não,
- Pois não sô criado do boato,
- Se tu me mata cumpadre,
- Tu deita no mesmo prato.
ZÉ MORAIS- A morte é pra outra veis,
- Mais vou te contar agora,
- Um boato que eu sei,
- Da tua honrosa senhora.
ZÉ PEDRÃO- Não me venha com conversa,
- Que é o fim de nossa amizade,
- Depois não venha se queixa,
- Que das prosas nossa tem sudade.
ZÉ MORAIS- Depois de tua ofensa,
- Respeito não merece não,
- A tua filha Chiquinha,
- É filha do Ricardão.
ZÉ PEDRÃO- Tua coroa foi tão pesada,
- Qui quis reparti comigo,
- Renegô minha amizade,
- Não sou mais o teu amigo.
ZÉ MORAIS- Cumpadre não vamo dexá,
- Acaba essa nossa amizade.
- As cumadre que se fô...,
- Pra nois não sofre de saudade.
ZÉ PEDRÃO- Ora, ora meu cumpadre,
- Vóis suncê tem toda a razão,
- Num pode jamais briga,
- Veios amigos de coração.
ZÉ MORAIS- Numa noite de São João,
- Quase acabo essa amizade,
- As comadres foram à festa,
- E quase sobrou para os compadres.
ZÉ PEDRÃO- Na luz de uma fogueira,
- O povo soube que João,
- Estava chegando ao mundo,
- Para anunciar a salvação.
ZÉ MORAIS- Hoje aqui nesta festa,
- Tudo pode acontecer,
- A nossa trova termina,
- Muitos amores vão nascer.
ZÉ PEDRÃO- Finalizemos esta trova,
- Obrigado à autora.
ZÉ MORAIS- Agradecemos as risadas,
- E as palmas que vem agora.