Ser pai 8
Categoria: Autores
Ser pai
Arthur da Távola
Ser pai
é acima de tudo,
não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e
quando cheguem.
É saber fazer o necessário
por cima e por dentro
da incompreensão.
É aprender a tolerância com
os demais e
exercitar a dura intolerância
(mas compreensão)
com os próprios erros.
Ser pai
é aprender errando,
a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva,
coadjuvante,
deixado para depois.
Mas jamais falar no momento
preciso.
É ter a coragem de ir adiante,
tanto para a vida quanto
para a morte.
É viver as fraquezas que
depois corrigirá no filho,
fazendo-se forte em
nome dele e de tudo o que terá
de viver para compreender
e enfrentar.
Ser pai
é aprender a ser contestado
mesmo quando no auge
da lucidez.
É esperar.
É saber que experiência
só adianta para quem a tem,
e só se tem vivendo.
Portanto,
é aguentar a dor de ver
os filhos passarem
pelos sofrimentos necessários,
buscando protegê-los sem
que percebam,
para que consigam descobrir
os próprios caminhos.
Ser pai
é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento,
vício, queda e tocaia,
jamais transferindo aos
filhos o que,
a alma, lhe corrói.
Ser pai é ser bom
sem ser fraco.
É jamais transferir aos filhos
a quota de sua imperfeição,
o seu lado fraco,
desvalido e órfão.
Ser pai é aprender
a ser ultrapassado,
mesmo lutando para
se renovar.
É compreender sem demonstrar,
e esperar o tempo de colher,
ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a
sufocar a necessidade de
afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas
quando chegam.
Ser pai
é saber ir-se apagando
à medida em que mais nítido
se faz na personalidade do filho,
sempre como influência,
jamais como imposição.
É saber ser herói na infância,
exemplo na juventude
e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar,
ajudar sem cobrar,
ensinar sem o demonstrar,
sofrer sem contagiar,
amar sem receber.
Ser pai
é saber receber raiva,
incompreensão,
antagonismo,
atraso mental,
inveja,
projeção de sentimentos negativos,
ódios passageiros,
revolta,
desilusão e a tudo responder
com capacidade de prosseguir
sem ofender;
de insistir sem mediação,
certeza, porto, balanço,
arrimo, ponte,
mão que abre a gaiola,
amor que não prende,
fundamento, enigma,
pacificação.
Ser pai
é atingir o máximo
de angústia no máximo
de silêncio.
O máximo de convivência
no máximo de solidão.
É, enfim,
colher a vitória exatamente
quando percebe que o filho
a quem ajudou a crescer já,
dele,
não necessita para viver.
É quem se anula na obra
que realizou e sorri,
sereno,
por tudo haver feito
para deixar de ser
importante.
Arthur da Távola
Ser pai
é acima de tudo,
não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e
quando cheguem.
É saber fazer o necessário
por cima e por dentro
da incompreensão.
É aprender a tolerância com
os demais e
exercitar a dura intolerância
(mas compreensão)
com os próprios erros.
Ser pai
é aprender errando,
a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva,
coadjuvante,
deixado para depois.
Mas jamais falar no momento
preciso.
É ter a coragem de ir adiante,
tanto para a vida quanto
para a morte.
É viver as fraquezas que
depois corrigirá no filho,
fazendo-se forte em
nome dele e de tudo o que terá
de viver para compreender
e enfrentar.
Ser pai
é aprender a ser contestado
mesmo quando no auge
da lucidez.
É esperar.
É saber que experiência
só adianta para quem a tem,
e só se tem vivendo.
Portanto,
é aguentar a dor de ver
os filhos passarem
pelos sofrimentos necessários,
buscando protegê-los sem
que percebam,
para que consigam descobrir
os próprios caminhos.
Ser pai
é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento,
vício, queda e tocaia,
jamais transferindo aos
filhos o que,
a alma, lhe corrói.
Ser pai é ser bom
sem ser fraco.
É jamais transferir aos filhos
a quota de sua imperfeição,
o seu lado fraco,
desvalido e órfão.
Ser pai é aprender
a ser ultrapassado,
mesmo lutando para
se renovar.
É compreender sem demonstrar,
e esperar o tempo de colher,
ainda que não seja em vida.
Ser pai é aprender a
sufocar a necessidade de
afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas
quando chegam.
Ser pai
é saber ir-se apagando
à medida em que mais nítido
se faz na personalidade do filho,
sempre como influência,
jamais como imposição.
É saber ser herói na infância,
exemplo na juventude
e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar,
ajudar sem cobrar,
ensinar sem o demonstrar,
sofrer sem contagiar,
amar sem receber.
Ser pai
é saber receber raiva,
incompreensão,
antagonismo,
atraso mental,
inveja,
projeção de sentimentos negativos,
ódios passageiros,
revolta,
desilusão e a tudo responder
com capacidade de prosseguir
sem ofender;
de insistir sem mediação,
certeza, porto, balanço,
arrimo, ponte,
mão que abre a gaiola,
amor que não prende,
fundamento, enigma,
pacificação.
Ser pai
é atingir o máximo
de angústia no máximo
de silêncio.
O máximo de convivência
no máximo de solidão.
É, enfim,
colher a vitória exatamente
quando percebe que o filho
a quem ajudou a crescer já,
dele,
não necessita para viver.
É quem se anula na obra
que realizou e sorri,
sereno,
por tudo haver feito
para deixar de ser
importante.